“Precisamos defender no governo Dilma reformas
estruturais, e não somente emergenciais”. A frase de Joílson Cardoso,
secretário de Política Sindical e Relações Institucionais da CTB e secretário
Nacional Sindical do Partido Socialista Brasileiro (PSB) , resume as
expectativas da direção da central sobre as prioridades da sucessora de Lula. A
reportagem a seguir foi publicada na Revista Visão Classista da Central dos
Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). Cardoso
entende que em alguns momentos, nos últimos anos, foi inevitável recorrer a
medidas emergenciais para dar sustentabilidade à economia do país. Ele cita a
renúncia fiscal do governo durante a crise financeira mundial como exemplo,
quando diversos produtos tiveram o Imposto sobre Produtos Industrializados
(IPI) reduzido, liberação de parte dos compulsórios dos bancos. Mas o momento
agora é outro. “O
que queremos agora são reformas como a redução da jornada de trabalho para 40
horas, o fim da terceirização, o combate à alta rotatividade que desemprega
milhões de brasileiros, a continuidade da distribuição de renda no Brasil e o fim
do fator previdenciário, entre outras”, afirmou o dirigente da CTB. Joílson
entende que o Brasil precisa aproveitar o atual momento histórico para se
desenvolver a passos largos. “O país está caminhando para o pleno emprego, indo
na contramão dos Estados Unidos e da União Europeia. Aqui a realidade é
diferente: precisamos lutar ainda pelo trabalho decente e combater a alta
rotatividade da mão de obra nas empresas que reduz salários, com suas nocivas
conseqüências, e que joga o trabalhador na incerteza da recolocação no mercado
de trabalho. Esse esvaziamento da massa salarial, além de injusto, afeta
diretamente as contas da Previdência Social com efeitos nefastos para a
arrecadação do Estado”, explicou. A
amplitude de alianças do governo Dilma é algo que, assim como nos oito anos de
Lula à frente da Presidência, gerará uma série de disputas no governo e na
máquina federal. A CTB lutará para que predominem as políticas das forças de
esquerda e centro-esquerda, de modo a colocar em prática o desejo demonstrado
pela maioria da população nas urnas. Mesmo
nesse cenário de disputa ferrenha, Joílson se diz otimista em relação aos
próximos anos por dois motivos: (1) os partidos que representam setores mais
progressistas da sociedade saíram fortalecidos das eleições, com importantes
vitórias para os governos estaduais, para o Senado e para a Câmara dos
Deputados; (2) o fato de a nova presidente ser uma mulher que sempre militou e
defendeu causas da esquerda do país, além de possuir uma biografia de lutas
bastante rica. Apesar
desse otimismo, o dirigente da CTB ressalta que a autonomia do movimento
sindical – condição essencial para que a classe trabalhadora tenha o
protagonismo político necessário – está em xeque. “Temos que nos manter muito atentos
no plano organizativo e nas relações necessárias com o governo, para que
possamos preservar nossa autonomia”, disse. Joílson
se referiu especificamente no plano organizativo, à Ação Direta de
Inconstitucionalidade (Adin) número 4.067, de autoria do Democratas, cujo
conteúdo questiona o repasse da contribuição sindical às centrais. O partido,
que atualmente discute a possibilidade de se unir a outras legendas, em virtude
de seus recentes e pífios resultados eleitorais, tenta, via Judiciário, aplicar
um golpe na unidade conquistada pela classe trabalhadora nos últimos anos,
atacando o “calcanhar de Aquiles” do movimento sindical brasileiro que é o
custeio e o direito de representação. Ações
reacionárias à parte, Joílson lembra que o Supremo Tribunal Federal (STF) deve
se posicionar a respeito da Adin nos próximos meses. “Precisamos estar alertas
contra esse golpe. Nosso protagonismo durante o governo Dilma dependerá de mais
essa vitória”, afirmou.
Autonomia e disputa