Desde que o escândalo dos funcionários "fantasmas" da Prefeitura de Campinas e da Câmara de Vereadores eclodiu, o eleitor tem demonstrado que está atento às denúncias. A prova está no desabafo de vários parlamentares que estão sendo hostilizados pela população. Além da agressividade verbal, muitos também são alvos de brincadeiras irônicas das pessoas que não se intimidam e pedem um "carguinho de fantasma de R$ 5 mil". O Correio tem denunciado, desde o dia 1 de fevereiro, que vários assessores pagos pelos cofres públicos nunca trabalharam. Desde então, seis deles foram demitidos -- três são ligados ao presidente da Casa de Leis, Aurélio José Cláudio (PDT). "Está difícil ir para os bairros. Mesmo não tendo fantasmas, o povo xinga e pergunta por que não estamos investigando", disse um vereador da base de sustentação do prefeito Hélio de Oliveira Santos (PDT). Outro governista disse que em qualquer lugar acaba virando o centro das atenções. "Estou sendo alvo de brincadeiras e cobrado para assinar a CEI (Comissão Especial de Inquérito, proposta para investigar o escândalo, mas que ainda não reuniu as 11 assinaturas necessárias para a oposição conseguir colocar em votação o pedido). A gente argumenta, mas não convence. Isso é o peso da base", avaliou. Um vereador mais experiente analisa que o desgaste tem sido provocado pela permanência de Aurélio no cargo de presidente do Legislativo. No início da crise, houve um movimento para derrubá-lo, mas foi contido. Para ele, a permanência do pedetista beneficia o prefeito. "O Aurélio é útil ao prefeito porque chama o foco da crise para a Câmara e finge que todas as nomeações (dos 'fantasmas') não passaram pela Prefeitura. Ele é o boi de piranha do prefeito", argumentou. O coordenador de Comunicação da Prefeitura, Francisco de Lagos, classificou como "absurda" a análise desse parlamentar. "O desgaste de um vereador não beneficia a Administração. O prefeito faz questão que haja paz no Legislativo e que eles possam trabalhar. Essa declaração tem um objetivo claro que é criar um clima." Para esse mesmo vereador, o presidente da Casa é inábil para gerenciar a crise. "Há uma decepção exagerada com o presidente que não consegue enfrentar a crise. A Câmara está encurralada. Os governistas não podem assinar a CEI porque dará palanque para a oposição em ano eleitoral. Ao não assinar, sofre o desgaste. Eu sou cobrado constantemente. Está difícil", desabafou. Para o vereador Paulo Bufalo (PSOL), a hostilização é reflexo do comportamento dos governistas. "É reflexo da postura que adotaram ao longo dessa gestão. O comportamento do eleitor é saudável porque mostra que está atento", ressaltou. O tucano Artur Orsi concorda. "A Câmara toda está sendo desmoralizada", comentou. Orquestração O presidente da Câmara, após saber sobre o conteúdo da reportagem, ligou para vários vereadores da base governista. Coincidentemente, alguns desses parlamentares procuraram a reportagem para afirmar que não estavam sendo hostilizados. "O Aurélio me ligou. Não estou sendo hostilizado", disse o vereador José Carlos Silva (DEM). Outro parlamentar que saiu em de fesa do presidente da Casa foi Tadeu Marcos Ferreira (PTB). "Ele me ligou e perguntou se eu estava me sentido perseguido. Reconheço que é um momento complicado, mas não tenho tido cobranças até porque não tenho feito nada para recebê-las", disse o petebista. A assessoria de imprensa negou que Aurélio tenha pedido para os vereadores ligarem para a reportagem. Informou apenas que o presidente procurou os colegas para saber se estavam sendo hostilizados.
Aurélio disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que "achou estranha a afirmação sobre a hostilização". Segundo ele, "tem recebido apoio de sua base eleitoral e também daqueles que são seus aliados na Câmara".
Fonte: Correio Popular