Os preços recorde dos alimentos e o perigo de a fome alastrar-se pelos países pobres são assuntos que devem tomar dominar a cúpula da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) a ser realizada em Roma, entre os dias 3 e 5 de junho. Leia abaixo algumas informações a respeito da crise dos alimentos e a respeito de como a comunidade internacional pretende enfrentá-la. QUEM SÃO OS QUE SOFREM COM PREÇO EM ALTA DE ALIMENTOS? O valor dos principais produtos alimentícios dobrou nos últimos dois anos, e commodities como o arroz, o milho e o trigo atingiram patamares recorde de preço. Alguns desses preços são os mais altos dos últimos 30 anos em termos reais. A FAO diz que o fenômeno deve piorar as condições de vida de 850 milhões de pessoas que já sofrem de desnutrição crônica. Nos últimos meses, houve distúrbios relacionados com a falta de alimentos em vários países em desenvolvimento, entre os quais o Haiti, Bangladesh e alguns da África. Nas nações mais pobres, as pessoas chegam a gastar mais da metade de sua renda com a alimentação. Na Alemanha, por exemplo, a população gasta em média 10 por cento de sua renda para comer. POR QUE O PREÇO DOS ALIMENTOS VEM AUMENTANDO? Há muitos fatores para explicar a disparada dos preços, entre os quais uma seca em importantes produtores como a Austrália, uma demanda crescente da parte de economias em franca expansão como a China e a Índia, o aumento do preço do petróleo, encarecendo os custos de produção, e uma diminuição dos estoques. Especialistas também responsabilizam pelo fenômeno a grande expansão dos programas de biocombustíveis, desviando terras e safras da produção de alimentos, bem como as restrições à exportação impostas por alguns países. A FAO e a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) prevêem que o preço dos alimentos continuará em um patamar alto na próxima década apesar das boas safras deste ano. O QUE A CÚPULA DA FAO DISCUTIRÁ? O encontro, convocado no ano passado para tratar dos efeitos das mudanças climáticas e dos biocombustíveis sobre a distribuição de alimentos, deve agora tratar do aumento dos preços. Cerca de 40 chefes de Estado e de governo devem participar do encontro. Apesar de a cúpula não ser uma conferência de doares, prevê-se que os líderes mundiais elaborarão um comunicado a respeito de como enfrentar a falta de alimentos. Os delegados presentes conhecerão ainda os resultados dos esforços de uma força-tarefa criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para tratar da questão. O QUE SE PODE FAZER? O chefe da FAO, Jacques Diouf, diz que, no curto prazo, a comunidade internacional precisa garantir que os que passam fome em países mais pobres recebam a quantidade de ajuda necessária. As restrições à exportação baixadas em algumas nações produtoras a fim de proteger seu suprimento interno também deveriam ser suspensas com vistas a reduzir a pressão inflacionária. No médio prazo, será preciso fornecer ajuda a pequenos agricultores a fim de garantir que disponham das sementes e dos fertilizantes necessários para a próxima época de plantio. No longo prazo, a FAO diz que o mundo precisa ampliar seus investimentos no setor agrícola dos países em desenvolvimento, o que incluiria as áreas de irrigação, microcrédito, transporte e armazenamento. Além disso, as políticas comerciais precisam ser alteradas, eliminando os subsídios agrícolas pagos nos países mais ricos e responsáveis por prejudicar os produtores dos países mais pobres. Sem os subsídios, as nações mais pobres teriam acesso aos mercados das nações mais ricas. Dois assuntos particularmente polêmicos devem ainda ser debatidos -- os combustíveis feitos a partir de produtos comestíveis como o milho e os óleos vegetais; e os organismos geneticamente modificados. Tanto os EUA quanto a União Européia (UE) possuem políticas de incentivo aos biocombustíveis, algo que, na opinião de vários especialistas em questões alimentícias, deveria ser revisto. Já as plantas geneticamente modificadas produzem mais e conseguem ter sucesso sob condições climáticas ou de solo difíceis, oferecendo assim uma saída para enfrentar a falta de alimentos. No entanto, muitos países europeus continuam renitentes em aceitá-las.
Fonte: Agências