A crise no sistema público de saúde em Campinas entrou mais uma vez em evidência ontem. No Pronto-Socorro do Hospital Ouro Verde, pacientes chegaram a esperar dez horas. “Cheguei aqui às 8h, já são quase 18h e eu continuo aqui. Meu filho está com suspeita de dengue e ainda não foi medicado. Depois de quatro horas esperando, ele foi chamado para fazer o exame. Até agora, estamos esperando o resultado”, disse Ana Carla Rodrigues de Souza. Sem opção de atendimento em unidades básicas, a atendente de farmácia Tamires Gomes da Silva, de 23 anos, que está com inflamação no olho foi buscar ajuda no Ouro Verde, mas se arrependeu. “Cheguei antes das 12h, fui atendida agora (por volta das 18h)e não me deram nem atestado. Agora, vou voltar para casa e correr para o trabalho para não perder o dia”, disse. A faxineira Janecléia Guedes, de 25 anos, teve de faltar. Com febre e dor de cabeça, chegou ao PS antes das 10h, mas só foi atendida às 15h e estava esperando desde então para tomar a medicação. “É um absurdo, está direto assim, agora.” Segundo Jacinta Martins Melo, de 55 anos, que esperou oito horas para poder voltar para casa, houve até gente que passou a madrugada toda à espera de atendimento. “Tinha uma mulher que estava esperando desde a quarta-feira (10) e foi falar com a médica, mas acabou levando uma portada na cara.” A Prefeitura de Campinas confirmou que a espera estava em torno de cinco horas, mas reafirmou que a situação é reflexo da crise no setor que a cidade vem enfrentando e que o problema deve ser solucionado em breve, uma vez que o processo de contratação para repôr os médicos demitidos do Cândido Ferreira já foi aberto.
De acordo com a Administração, o Hospital Ouro Verde é o único que vem atendendo com a equipe completa — sete clínicos gerais e quatro pediatras —, mas a falta de médicos nos outros hospitais acaba refletindo no complexo. Além disso, outros fatores, como aumento de doenças respiratórias e de dengue nesta época do ano, também contribuem para a lotação nos prontos-socorros.
Na quinta-feira (11), a Prefeitura informou que não tem condições de absorver o quadro de funcionários do Ouro Verde na municipalização do hospital, uma vez que a folha de pagamento representa hoje mais de 47% do orçamento e os novos gastos comprometeriam o cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal. Para resolver o problema, a ideia é torná-lo uma fundação pública de direito privado.