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24/02/2012

A Saúde na UTI

notícia publicada no dia 21 de fevereiro/2012

A crise POLÍTICA agravou o quadro do sistema público de SAÚDE em Campinas. Falta de MÉDICOS e de REMÉDIOS, problemas de infraestrutura, filas para CONSULTAS e violência contra servidores compõem um cenário de DEGRADAÇÃO que coloca...
A crise política que atinge Campinas desde o começo do ano passado, quando surgiram as primeiras denúncias que levaram à cassação do prefeito Hélio de Oliveira Santos (PDT), teve reflexos severos sobre o sistema de saúde pública na cidade. Hoje, depois de quase um ano, a falta de investimentos e de atenção do poder público provocaram problemas de falta de medicamentos, falta de funcionários e sucateamento das unidades básicas de atendimento.
Para piorar o cenário, a Secretaria Municipal de Saúde ainda tem que lidar com dois grandes problemas que podem provocar o caos no atendimento à população: a polêmica sobre a legalidade do convênio com o Cândido Ferreira, responsável por 17,3% da mão de obra, e um impasse com a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), que administra o Hospital Ouro Verde e reivindica uma dívida de R$ 10,4 milhões, o que impede a ampliação da capacidade de atendimento do hospital. Além disso, o Município já vinha sofrendo com as consequências do desfinanciamento do Sistema Único de Saúde (SUS) e da falta de investimento ao longo dos últimos anos.
A reportagem do Correio Popular percorreu 12 centros de saúde na cidade nas últimas duas semanas, em diversos bairros, para conferir como estavam. Encontrou usuários insatisfeitos, irritados, se sentindo deixados de lado para retirar medicamentos nas farmácias e na busca por atendimento.
O consultor financeiro Edison Valério foi diagnosticado com distúrbio bipolar, é hipertenso e diabético. Ele tem que tomar sete remédios diferentes por dia, entre eles três doses diárias de sertralina. “Esse remédio está sempre em falta, desde 2009 que tem falta”, diz o usuário mostrando receitas médicas com data de 2009 e o carimbo atestando a falta do medicamento no CS Integração.
Como resultado, Valerio está sem tomar o antidepressivo desde 2011. “Eu tenho uma condição que me obriga a usar o tranquilizante. Sem ele perco o controle facilmente e por isso estou sem sair de casa porque tenho medo daminha reação”, conta.
A cada dois meses um psiquiatra deveria avaliar Valerio, mas a última consulta foi no início de agosto de 2011. “Não há psiquiatra no centro e eles não dizem quando terão consulta”, explica. As receitas mensais são assinadas por clínicos gerais, sem que seu estado de saúde seja avaliado.
José Paulo Porsani, presidente do Conselho Municipal de Saúde (CMS) de Campinas, diz que a demora para marcar consulta com especialidades é um dos problemas mais graves enfrentados pelos campineiros. “A espera por uma consulta na oftalmologia chega a demorar oito meses, a prefeitura estuda fazer um convênio com a Sociedade Beneficência Portuguesa para atender os pacientes do município”, afirma.
Cerca de 14 mil pessoas aguardam na fila por uma consulta com oftalmologia. “Temos demanda alta por algumas especialidades como oftalmologia eortopedia”, diz o novo secretário, Fernando Brandão, há 20 dias no cargo. Ele conta que estuda medidas para sanar o problema, entre elas convênios com outras instituições.
A demora para a relização de exames é outra demanda da população. O aposentado Antônio de Paula de Jataí reclama que fez exames simples que demoraram três meses para ficar prontos. “Fiz exames de sangue e urina e demorou três meses para sair o resultado”, afirma. Sua esposa, a dona de casa Maria Eliete Carvalho, atendida pelo CS do Parque Santa Bárbara,diz que espera há seis meses por uma consulta. “Tudo é muito demorado e ainda por cima falta remédio. Fica difícil usar o postinho.”

Cortes
O novo secretário não tem um cenário positivo pela frente. A crise fez a Prefeitura aplicar um contigenciamento de 15% no orçamento desse ano. E os cortes não podem ser feitos em obras em andamento que são financiadas por verbas parlamentares ou por meio de convênios com o governo federal ou . “O corte tem que ser feito na verba que vem do município, vamos ter que fazer cortes em gastos como segurança, manutenção de unidades, compra de material, mas vamos priorizar a compra de remédios”, informou.
No ano passado, apenas 75% do orçamento foi usado por causa da crise. O resultado é a falta de manutenção nas unidades e o desabastecimento de medicamentos e insumos como gaze, soro e atadura. A prefeitura deixou de pagar seus fornecedores durante seis meses, acumulando uma dívida de R$ 13 milhões. “Boa parte dos fornecedores estava sem receber há seis meses. Esses pagamentos são feitos com recursos da secretaria de Finanças, nós não temos domínio sobre essa situação. Você acaba perdendo credibilidade e enfrenta problemas nas licitações vigentes. Deixa de comprar de empresas melhores e fica com os fornecedores piores por falta de opção”, diz.

OS PRINCIPAIS PROBLEMAS DA REDE PÚBLICA

● Remédios e insumos – Dívidas de R$ 13 milhões com Fornecedores provocaram desabastecimento de 24 medicamentos e de uma série de insumos médicos e odontológicos.
● Déficit de funcionários – Faltam aproximadamente 1,5 mil funcionarios na saúde, segundo estimativa da própria pasta.
● Consulta com especialista - A demora para conseguir uma consulta com especialidades como pediatria, oftalmologia ou psiquiatria chega a ultrapassar oito meses.
● Cândido Ferreira – Justiça considerou ilegal o convênio com o Cândido Ferreira e determinou a anulação. Prefeitura tem que fazer um concurso público para contratar 1,3 mil funcionários.
● Ouro Verde – A SPDM, que administra o Complexo Hospital Ouro Verde, cobra uma dívida de R$ 10,4 milhões, Prefeitura contesta. Enquanto o problema não é resolvido, a ampliação do atendimento à população não é efetivada
● Infraestrutura – A Secretaria de Saúde tem uma verba de apenas R$2,8 milhões por ano para fazer a manutenção de 71 unidades básicas de saúde. O valor é muito abaixo do necessário e vem gerando ao longo dos anos o sucateamento do setor.
● Orçamento – Crise política e o contingenciamento de recursos emperraram o uso do orçamento. Em 2011 isso provocou o corte em itens como manutenção de centros de saúde e compra de medicamentos e insu
Fonte: Correio Popular

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