Publicado no Jornal Correio Popular
Campinas vive um drama sem precedentes na sua história. O quadro político campineiro se deteriorou e parece mudar para pior quando mudam as circunstâncias. A proposta de eleição indireta para prefeito nos leva a uma certeza de que o resultado já está traçado. A partir da cassação do ex-prefeito Demétrio, a engenharia orquestrada é manter o mandato-tampão do atual prefeito até o final do ano. Trata-se de um perfeito trem da alegria. São quinhentos comissionados que nãovão prestar serviço algum à população e só vão inflar a folha de pagamento. Enquanto isto, a cidade está à beira de um caos em razão da desassistência da saúde com o fim do convênio com o Cândido Ferreira. Para viabilizar a estratégia do quarto andar, a conversa tem sido com o dono do voto, o vereador, ignorando os respectivos partidos. Neste contexto, os partidos estão em xeque e a traição poderá acontecer de um lado ou de outro. Traição e suas formas nos remetem à traição de Jesus. Judas Iscariotes escolhido como um dos apóstolos tornou-se infiel e iníquo, porque era mais apegado ao dinheiro do que os gestos praticados por Jesus. Ecoa da Bíblia essa verdade que por sua vez revela o seguinte paradoxo: “A traição não parte dos inimigos e sim dos amigos”. O Executivo e o Legislativo campineiro já foram agraciados pela prática da traição nos episódios de cassação de Hélio e Demétrio e parece que terão que passar por essa provação novamente. Diferentemente da narrativa bíblica, as moedas de ouro são os cargos públicos. Os partidos serão desta vez os traídos na ceia da eleição indireta já que a conversa tem sido individual. Estar na máquina pública significa ganhar a visibilidade política cuja pretensão deságua na reeleição de muitos vereadores e também do próprio prefeito Serafim, que terá nove meses para se cacifar e entrar no páreo da eleição em outubro. Serafim conduziu a campanha salarial dos vereadores com sucesso, aumentando em 126% os próprios vencimentos para 2013. A Câmara Municipal não é um apêndice do Executivo e sim instrumento para o seu fortalecimento. Nos termos que dispõe a Constituição, os poderes são independentes. Há uma teatralização da pior espécie em que os atores do Executivo e do Legislativo se misturam, enquanto a plateia, além de pagar a manutenção do espetáculo, é ao mesmo tempo tripudiada pela trupe de atores. A sociedade está atenta ao desgoverno instalado em Campinas e a Câmara Municipal deve exercer seu protagonismo. Não pode viver dependurada no governo e à margem da vontade da sociedade que a elegeu e a ela deve prestar contas. Marionaldo Fernandes Maciel é coordenador do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Campinas
Fonte: Correio Popular