A Prefeitura deve anunciar, em duas semanas, a conclusão da análise de um projeto que poderá gerar investimentos em alta tecnologia da ordem de R$ 500 milhões com a transferência, para o polo 2 da Companhia de Desenvolvimento do Polo de Alta Tecnologia de Campinas (Ciatec), do Centro Tecnológico de Operações (CTO) do Itaú-Unibanco. O CTO, no entanto, pode não ficar em Campinas. A crise política instalada com a cassação do prefeito Hélio de Oliveira Santos (PDT), após as denúncias do Caso Sanasa, levou o banco a buscar outras alternativas. O Correio apurou que Jaguariúna também está no páreo e, as negociações, avançadas.
Procurado ontem, o secretário de Urbanismo, Luiz Yabiku, responsável pela análise de projetos de novos empreendimentos na cidade, não quis comentar a possibilidade de Campinas perder um investimento. O presidente do Ciatec, Luiz Carlos Gaspar, não retornou as ligações. O Departamento de Uso e Ocupação do Solo da Secretaria de Urbanismo convocou, na edição de ontem do Diário Oficial do Município, o Itaú-Unibanco a comparecer no departamento.
No início do ano, o Itaú iniciou sondagens para adquirir uma área de 1,2 milhão de metros quadrados para instalar o centro de operações, que será responsável pelas operações bancárias na América Latina. O CTO, hoje instalado em São Paulo, abriga os 4 mil servidores responsáveis por rodar os sistemas de quase 4 mil agências, cerca de mil postos de atendimentos e 30 mil caixas eletrônicos responsáveis pelo atendimento dos 20 milhões de clientes da instituição.
Caso o Itaú opte por instalar seu CTO em Campinas, será o segundo banco a transferir seu data center para o Ciatec. No ano passado, o Santander anunciou investimento inicial de R$ 450 milhões para implantar, em área de 1 milhão de metros quadrados no parque de Campinas, um polo de tecnologia que incluirá dois data centers.
O Itaú-Unibanco não comentou o projeto e disse que analisa, ainda, outras áreas no País. O banco tem instalado na cidade o data center de Disaster Recovery da instituição— o conjunto de procedimentos para atenuar a parada dos equipamentos em caso de desastre natural ou intervenção humana.
Jaguariúna e Campinas oferecem basicamente os mesmos incentivos fiscais para a atração de empresas. As duas cidades dão isenção de taxas, alvarás, licenças, isenção ou redução de IPT, ITBI e ISSQN. Campinas tem uma lei específica para empresas de base tecnológica, e Jaguariúna oferece a execução ou o ressarcimento de obras de infraestrutura. Ambas oferecem moderna infraestrutura logística e de transporte, mão de obra qualificada e avançados centros de pesquisa.
Secretário vai apurar ações de antecessor
Sindicância aberta por Yabiku no Urbanismo mira aprovações de empreendimentos por Jarreta
A Prefeitura de Campinas abriu uma sindicância interna para investigar a conduta do ex-secretário de Urbanismo Hélio Jarreta, no que se refere à aprovação de empreendimentos imobiliários na cidade. Jarreta é suspeito de ter sido conivente ou omisso na liberação para a construção de condomínios em Campinas, considerados irregulares pelo Ministério Público (MP).
Caso seja comprovado que houve falha na atuação do ex-secretário, Jarreta poderá responder por improbidade administrativa. Segundo o secretário de Assuntos Jurídicos, Antônio Caria Neto, mesmo tendo pedido exoneração do cargo, o ex-secretário pode ser processado por uma possível omissão. “Ao final da sindicância, se for realmente encontrado alguma ilegalidade envolvendo o investigado, a Administração pode abrir um processo de improbidade administrativa, mesmo ele não sendo mais secretário. A ação pode ser retroativa. Além disso, também pode ser oferecida uma denúncia sobre o fato ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas do Estado. Se nada for encontrado, a investigação será arquivada”, disse Caria.
O secretário de Urbanismo de Campinas, Luis Yabiku, disse que designou dois funcionários para fazer um pente-fino nos grandes contratos liberados por Jarreta. “O que encontramos foram vários contratos totalmente fora dos procedimentos normais e que estão incorretos. Esses projetos, mesmo assim, foram levados para a frente. Nós detectamos o erro, embargamos obras, e agora vamos apurar de quem é a responsabilidade”, afirmou.
Ainda segundo Yabiku, os embargos ocorreram por contestações, ausência de contrapartida e de planejamento. “Não queremos mais embargos. O que não se pode aceitar é a continuidade de obras que estão irregularidades. A sindicância também não pretende apontar apenas os erros. O que precisa ser feito neste momento junto aos empreendedores é buscar soluções”, afirmou o secretário.
Jarreta pediu exoneração do seu cargo após vir à tona as denúncias do Caso Sanasa, no primeiro semestre deste ano. O desligamento do cargo ocorreu depois que o ex-secretário viu seu nome relacionado, em escutas telefônicas, a supostos favorecimentos a empresários na liberação de alvarás de empreendimentos, em um esquema também supostamente liderado pelo ex-diretor de Planejamento da Prefeitura Ricardo Chimirri Cândia. Na ocasião, Jarreta agradeceu o prefeito Hélio de Oliveira Santos (PDT) pela oportunidade de chefiar a pasta mas alegou que, diante das denúncias, deixaria o governo. O então vereador Luis Yabiku foi nomeado para assumir a função.
Após a promotoria notificar o prefeito a tomar providências em relação a empreendimentos considerados irregulares, a Prefeitura deu início a uma série de embargos de loteamentos e condomínios em Campinas — entre eles, condomínios da MRV e da Goldfarb em construção no Parque Jambeiro. A ação resultou em protestos de clientes que compraram imóveis em áreas onde a construção foi interrompida por determinação do Executivo.
Yabiku afirmou que todos os casos passam por análise rigorosa e que cada construtora está sendo chamada a negociar com a Administração. “A nossa última atitude é o embargo. Mas buscamos antes disso a saída para resolver este problema. Nós passamos hoje por um período de grande crescimento imobiliário em Campinas e tudo deve ser feito com cautela e cuidado”, afirmou o secretário. (Milene Moreto/AAN)