Os servidores da rede pública de Saúde de Campinas promoveram, ontem, a quarta paralisação de um posto de atendimento em menos de dois meses, em protesto pela falta de segurança. Desta vez, o local afetado foi o Centro de Saúde (CS) do Jardim Capivari, que teve as atividades suspensas por um dia e deixou de atender aproximadamente 350 pessoas.
Para conter a onda de protestos e garantir o atendimento básico à população, o secretário de Saúde, Adilson Rocha Campos, anunciou ontem um plano emergencial para combater a violência na rede, que inclui melhorias de estrutura e aumento de vigilância (leia texto abaixo).
De acordo com o grupo que parou as atividades ontem no Jardim Capivari, médicos, recepcionistas e enfermeiros sofrem agressões físicas e verbais constantes de pacientes. O posto também seria alvo frequente de assaltos e ações de vândalos.
A principal reivindicação dos 62 trabalhadores do Capivari é que a Prefeitura disponibilize um agente de segurança para ficar no CS pelo menos durante seu horário de funcionamento, das 7h às 19h. Somente este ano, foram registrados nove boletins de ocorrência (BOs) pelo posto, por agressões físicas, roubos de celulares e equipamentos de saúde e furto de carros. Ainda de acordo com os manifestantes, a Secretaria de Saúde recebe desde 2006 documentos que relatam casos de violência na unidade.
Conforme os servidores, a gravidade das agressões está aumentando. “O que antes era só verbal, agora é físico. Na semana passada, um paciente atirou pedras em um funcionário”, afirmou o diretor do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Campinas, João das Graças Silva, presente na manifestação.
Segundo o coordenador geral do sindicato, Marionaldo Maciel, a população estaria transferindo para os trabalhadores a indignação pela falta de equipamentos e insumos básicos para o atendimento de saúde. “Esta é uma questão séria que afeta todas as unidades. Os usuários precisam entender que agredir o funcionário não resolve o problema. A Secretaria de Saúde precisa se esforçar para fornecer produtos básicos, medicações, tudo de urgência que está faltando nos postos”, disse Maciel.
Na terça-feira, o secretário de Saúde se reuniu com os funcionários do posto para tentar cancelar o protesto no Jardim Capivari, porém, ficou acordado que somente os casos de urgência seriam recebidos pela equipe.
Ontem, os funcionários, vestidos de preto, entregaram uma carta aberta aos pacientes que foram à UBS pela manhã, na qual explicavam o motivo da paralisação. Cartazes colados nas paredes do centro reivindicavam mais segurança e condições dignas de trabalho aos servidores. Quatro agentes de Guarda Municipal acompanharam o protesto, para garantir o atendimento de emergência.
Há 12 anos se dedicando ao centro, uma auxiliar de enfermagem, que preferiu não se identificar, afirmou que vai trabalhar com medo todos os dias. “Tenho muito carinho pela comunidade, trabalho com saúde porque gosto. Mas a Prefeitura tem que garantir condições básicas para a gente trabalhar com respeito. Não é bom estar aqui insegura, sabendo que toda hora pode acontecer alguma coisa”, afirmou.
Outra funcionária disse que um dos pacientes atirou uma cesta de vime em sua cabeça. “Isso fora os tapas, puxões de cabelo e as ameaças. Falta tudo, desde gase para curativos até remédios importantes. Entendemos a revolta, mas é muito ruim trabalhar nesse clima.”