O prefeito Demétrio Vilagra (PT) começa sua gestão diante de um grande desafio de governabilidade, conquistar o apoio da Câmara de Vereadores. Após a Justiça anular atos Legislativo — de afastar o petista de seu cargo e de abrir uma Comissão Processante (CP) para tentar cassá-lo — a situação do novo chefe do Palácio dos Jequitibás ficou ainda mais complicada entre os parlamentares e uma das suas prioridades neste início de governo é justamente recompor o grupo aliado.
Hoje, sua base de sustentação conta apenas com os três integrantes da bancada petista — o líder do governo Josias Lech, Angelo Barreto e Jaírson Canário dos Anjos — e o vereador do PCdoB Sérgio Benassi. A maior parte dos parlamentares não quer se comprometer neste momento e adota o discurso de independência para se posicionar sobre o novo governante. Do outro lado, Demétrio aposta em uma agenda positiva para tentar arrebanhar o mínimo necessário de votos e aprovar seus projetos.
Em entrevista concedida ao Correio na última sexta-feira, Demétrio rebateu a declaração do tucano Biléo Soares de que o parlamentar criaria dificuldades no Legislativo junto à oposição. “Eu não acredito que o Biléo Soares, que é um campineiro de coração, que ama essa cidade, vai trabalhar nessa linha. Eu tenho certeza que as coisas boas, de interesse para Campinas, o Biléo vai assinar e me ajudar a construir essa governabilidade. Tenho plena convicção de que em tudo o que for bom para Campinas, a Câmara vai me ajudar”, disse o prefeito. Biléo chegou a afirmar na semana passada que, agora, “Demétrio vai apanhar como um gato de desenho animado”.
O petista ainda quer acelerar a votação de projetos importantes para Campinas, como os das macrozonas. Demétrio afirmou que a cidade precisa crescer e, para tanto, depende da aprovação dessas propostas. Desde que a crise se instaurou no Palácio dos Jequitibás, essas matérias foram congeladas na Câmara.
Alguns vereadores afirmam que não existe credibilidade para aprovar o plano de crescimento da cidade com intervenções profundas no urbanismo, uma vez que a própria secretaria responsável pelo setor está envolvida em denúncias de irregularidades. Para o opositor Artur Orsi (PSDB), antes de discutir as macrozonas, é necessária a aprovação da Lei de Uso e Ocupação do Solo que, para ele, seria um primeiro passo básico do Legislativo sobre o assunto.
“Ninguém quer inviabilizar a cidade, muito pelo contrário, mas as macrozonas estão enfiadas no esquema de corrupção mantido pelo Ricardo Cândia (ex-diretor da Prefeitura) e pela Rosely (Nassim Jorge Santos, ex-primeira-dama e ex-secretária chefe de Gabinete do marido, Hélio de Oliveira Santos, do PDT). Tudo isso ainda está muito nebuloso e não tem a confiança dos vereadores para que seja discutido. Não temos confiança agora e nem vamos ter depois. A dúvida sobre esse esquema de retalhamento da cidade para ter ganhos ilegais sempre permanecerá”, disse o tucano.
Dário Saadi, do DEM, exige um pente-fino nessas propostas. “As macrozonas precisam ser revistas porque foram elaboradas por um governo que não tem credibilidade. Precisamos diferenciar agora o que foi feito pensando no planejamento urbano e o que foi incluído no processo devido a interesses imobiliários.”
Saadi afirmou também que a bancada do DEM permanece com a postura independente no governo. “Vamos apoiar propostas que resgatem a credibilidade na Prefeitura, mas não queremos nenhum vínculo político com o governo do Demétrio”, informou.
Engrossando o coro, Jorge Schneider (PTB) reforçou a condição de independência de seu partido na Câmara. “Precisamos pensar Campinas, independentemente do que a Justiça definir (mencionando possíveis mudanças no Executivo no futuro). Somos ouvidores da população e precisamos levar à discussão as reivindicações das pessoas que representamos. A autossuficiência não tem mais espaço em Campinas. Temos duas orelhas e uma boca justamente para ouvir mais do que falar”, disse o parlamentar, mandando um recado ao Executivo.