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14/12/2011

Ficção ou realidade? (Artigo do Coordenador do Sindicato, Marionaldo Maciel, para o Correio Popular)

Quem nunca sonhou em tornar claros e fáceis de resolver os complicados cálculos matemáticos? Monteiro Lobato escreveu Aritmética da Emília e, nesse texto literário, a turma do Sítio do Pica Pau Amarelo mostra que é possível entender a lógica dos números de um jeito simples e divertido. E visitando o país da Aritmética, todos conseguem desvendar os segredos das contas e das equações

O mesmo não se pode dizer sobre o orçamento público. Ele é um documento legal, contendo as estimativas de receitas e despesas a serem realizadas pelo governante em um determinado exercício. A expressão que dá título a este pequeno artigo é oportuna porque estamos entrando no mês em que os poderes legislativos — municipais, estaduais e federal — aprovam o orçamento para o exercício de 2012.

Ver os números alinhados e distribuídos para as respectivas secretarias, pastas ou ministérios parece como o Circo Sarrazani criado pelo Visconde de Sabugosa. Na essência não passa de um faz de conta. Uma peça de ficção tanto quanto o Sítio do Pica Pau Amarelo.

Senão, vejamos! A previsão orçamentária para o Estado de São Paulo é de R$ 156,5 bi para o ano de 2012, anunciado pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB); a previsão da cidade de São Paulo administrada pelo Prefeito Gilberto Kassab (PSD) é de R$ 38 bi; aqui pelos lados de Campinas, Demétrio Vilagra (PT) entregou pessoalmente à Câmara um orçamento previsto para 2012 de R$ 3,4 bi; somando os números: R$ 156,5 bi mais R$ 38 bi mais R$ 3,4 bi, perfazendo o total de R$ 197,9 bilhões. Todos concordam que os recursos são gigantescos. Contudo são insuficientes para melhorar, por exemplo, a educa- ção, e garantir atendimento digno à população na saúde pública.

Detalhando ainda mais esses números, Geraldo Alckmin (PSDB) previu para Educação R$ 31,5 bilhões e, para a Saúde R$ 16,9 bilhões; Gilberto Kassab (PSD) para Educação R$ 7,2 Bi e Saúde R$ 5,5 bi; Demétrio Vilagra (PT), Educação R$ 700 milhões e Saúde R$ 600 milhões. A simultaneidade da apresentação robusta desses números pretendeu pinçar apenas dois temas relevantes, no caso, Educação e Saúde. A ostentação dos números é invejável. Contudo o caos nessas áreas vitais para a população permanece. Só para constar, anunciado pelo governo federal, o pagamento dos juros da dívida pública ficará entre R$ 60 bi e R$ 70 bilhões/ano de 2012. Quantia superior ao reservado para Saú- de e Educação de Campinas, cidade de São Paulo e pelo Estado de São Paulo. Triste realidade para campineiros, paulistas e paulistanos.

E a pouco mais de um ano das eleições municipais, estrategicamente esses governantes abrirão o pacote de bondades para contentar os eleitores tendo em vista os resultado nas urnas. Aliás, em época de campanha todos têm as soluções mágicas para a saúde e a educação. Esmeram em louvar os êxitos alcançados nas respectivas pastas para manipular a opinião pública. Após as intrigas entre eles, acompanhado dos discursos demagógicos e depois do sofrível processo eleitoral, o povo pagará como sempre o preço. Pois é, os orçamentos não conseguem expressar as promessas políticas feitas na campanha eleitoral. É que no momento da campanha, o candidato exibe um conjunto de intenções descoladas do orçamento e longe da realidade.

O orçamento público, seja ele qual for, não passa de um calhamaço cheio de números e códigos. É a expressão monetária de um planejamento, dizendo quanto custa em dinheiro o que se quer fazer e apontando de onde virá esse dinheiro. A participação do parlamento ou da população é simbólica, já que, do ponto de vista prático, ele é apenas uma peça de ficção.

À margem da discussão sobre o orçamento, Campinas teve um debate muito sério e valoroso sobre o reajuste dos vereadores. Em dois minutos os nobres edis passaram o rolo compressor e aprovaram em tempo recorde os 126% nos seus vencimentos. Isto não é ficção. Junto com o pagamento dos juros da dívida, é a segunda coisa que é realidade neste artigo. Bizarra, entretanto, é a justificativa que se valeram “irá proporcionar independência em relação ao Executivo”. Essa confissão do presidente da Câmara, autor do projeto sobre o aumento nos vencimentos dos vereadores, exige intervenção do Ministério Público, porque segundo o que se prega os poderes são independentes! Ou não?

Voltando ao Monteiro Lobato. O respeitável público estupefato com os números “enormíssimos”, capazes até de quantificar estrelas do céu e peixes do mar, como cidadão comum, deve estar se perguntando: por que com tanto dinheiro orçado, conforme exemplos acima, não se resolvem coisas simples como acabar com a fila de espera na saúde ou zerar a fila de espera nas creches?


Fonte: Correio Popular

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