Em uma cerimônia fria, Demétrio Vilagra (PT) tomou posse ontem do cargo de prefeito, na Câmara de Campinas, rodeado pela alta cúpulado Partido dos Trabalhadores. Na presença da nova primeira-dama, Márcia Vilagra, Demétrio entrou no plenário aplaudido pela plateia que, com exceção do PT, era composta do núcleo de secretários do ex-prefeito Hélio de Oliveira Santos (PDT), cassado na madrugada do último sábado pelos vereadores. Integrantes do Partido dos Trabalhadores aproveitaram a solenidade para afirmar que Demétrio vai governar Campinas sozinho, ou seja, sem a influência do partido, como ocorreu na gestão da ex-prefeita Izalene Tiene. A afirmação foi uma tentativa da legenda de desassociar a imagem do atual prefeito de Izalene, que também era vice e assumiu após a morte de Antonio da Costa Santos, o Toninho, em 2001. Apesar das declarações, um dia antes da posse, o Gabinete do prefeito já era ocupado por militantes da legenda, para articulações.
O novo prefeito é um dos investigados no Caso Sanasa,que apura um suposto esquema de fraudes na Administração, e assume em meio a pedidos de Comissão Processante e afastamento protocolados na Câmara. Na posse, adotou um discurso seco e sem o tom populista de Hélio. Mas não deixou de levantar as bandeiras da gestão pedetista, como as grandes obras em áreas de sucesso na Administração, como o saneamento. O petista também afirmou que vai tirar a cidade da crise política. “Pretendo trabalhar para que Campinas saia da estagnação devido à crise. Vamos trabalhar para resolver problemas como o déficit habitacional, vagas em creche”, afirmou. Demétrio disse ainda que não compactua com erros. “Acredito que a união do povo de Campinas é importante neste momento. Tenho conhecimento do que ocorre na cidade e vamos agora definir quais as ações prioritárias para transformar a crise em crescimento”, disse.
Na plateia para acompanhar a posse de seu cliente, o advogado Ralph Tórtima Stettinger — que defende Demétrio no Caso Sanasa —ponderou que o petista, como qualquer político em um cargo público de destaque, enfrentará dificuldades. “Se vale a verdade, eu acho que o quadro se reveste de alguma complexidade. A política se encaminha normalmente dentro de quadro de complexidade, porque na verdade as disputas são sempre muito grandes e acirradas, e não surpreende que na situação dele (Demétrio), também haja complexidade, dificuldades, disputas, desafios.”
PT
Nos bastidores da Câmara e da Prefeitura, o comentário desde o final de semana foi o de que o PT teria aplicado um golpe na Administração de Hélio ao romper com o governo minutos antes da votação da cassação. O golpe político seria motivado pela criação de uma liderança capaz de se fortalecer para entrar na disputa eleitoral do próximo ano. Outro “fantasma” que o PT tenta afastar é a caracterização de Demétrio como um “fantoche” nas mãos do partido.
As principais lideranças do PT de Campinas disseram ontem que não haverá influência na gestão de Demétrio. O braço-direito do prefeito, o atual secretário de Trabalho e Renda, Sebastião Arcanjo, rebateu as informações de possíveis interesses políticos do partido. “Isso é um absurdo, não temos ainda a certeza deque Demétrio ficará no poder. Temos uma votação importante amanhã (hoje, de uma comissão processante contra o petista), então, isso é delírio, fantasia e irresponsabilidade de quem está pensando desta forma.”
O presidente da Executiva municipal do PT, Ari Fernandes, fez questão de deixar claro que, a partir de agora, “quem manda na Prefeitura de Campinas é Demétrio”. Os petistas garantem que o novo chefe do Executivo terá autonomia para tomar suas decisões. “Nós não vamos misturar Administração e o partido. É claro que haverá uma relação de reciprocidade, mas quem manda é o Demétrio. O partido estará, logicamente, apoiando. Há um pacto sólido do partido em torno da figura do prefeito e de enfrentar mais essa conjuntura difícil da política de Campinas”, disse Fernandes.
Sobre a decisão do PT de deixar de apoiar Hélio na véspera da votação de seu impeachment, Fernandes negou ser uma manobra política. “Não houve golpe, nós tomamos uma decisão difícil. Entendemos que o partido tinha que dar cobertura à bancada e, à medida que ela mesmo entendeu que não tinha mais jeito e que ia votar pela cassação, o partido assumiu e orientou o voto seguindo a determinação da Comissão Processante. Nós entendemos que, naquele momento, o prefeito Hélio não tinha mais o domínio da coligação de governo. O próprio PDT foi favorável à cassação.”
O deputado estadual e ex-secretário municipal de Transportes Gerson Bittencourt foi na mesma linha, de fortalecer o nome de Demétrio à frente da Administração. “O prefeito é o Demétrio. Na última reunião do PT, me coloquei à disposição para ajudar nesse processo (de governo), mas sob um único comando, o do novo prefeito empossado. Temos em Campinas a unidade de todas as posições políticas do partido em solidariedade ao Demétrio. E todas elas apontam que a voz de referência, a voz de decisão é a do prefeito empossado”, ressaltou. “O Demétrio é uma pessoa simples, tem uma vida muito conhecida por todos e, certamente, vai levar a sua experiência, a sua simplicidade e o seu caráter para a Administração pública. Espero que, com essa decisão, Campinas possa continuar avançando e atraindo investimentos privados e recursos públicos para que não perca o pique desses últimos dez anos.”
O prefeito de Osasco, Emídio de Souza, o prefeito de Guarulhos, Sebastião Almeida, além de deputados do PT, prestigiaram a posse de Demétrio.
‘Se provarem meu envolvimento, renuncio’
Em sua primeira entrevista coletiva desde que foi preso acusado de integrar o grupo que atuava em supostas fraudes em licitações dentro da Sanasa, o prefeito Demétrio Vilagra (PT) preferiu a cautela e as respostas genéricas previamente decoradas na hora de enfrentar os repórteres no Salão Azul da Prefeitura. Demétrio estava à vontade no quarto andar do Palácio dos Jequitibás e cercado por integrantes do PT. O prefeito surpreendeu ao não defender Hélio de Oliveira Santos (PDT), a quem conheceu na infância e com quem compartilhou o governo até a semana passada. À imprensa, o petista afirmou que cabe à Justiça condenar, ou não, o ex-prefeito. Demétrio disse também que, no seu governo, não haverá irregularidades, nepotismo ou favorecimentos. O mais novo comandante do Palácio dos Jequitibás reafirmou que está pronto para governar Campinas e que terá credibilidade diante dos empresários. O petista fez questão de dizer, ainda, que vai administrar a cidade sozinho, sem a influência de seu partido, e que as denúncias que o fizeram ser preso este ano não são verídicas. “A Justiça está investigando. Se for comprovado que eu estou envolvido, eu vou renunciar.” Confira trechos da coletiva:
DENÚNCIAS
A minha defesa eu já fiz à Justiça. Eu espero que eu seja absolvido de todos esses indícios que pesam contra a minha pessoa. Eu sou uma pessoa limpa. Não devo nada à Justiça.
CREDIBILIDADE
Fonte: Correio Popular
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