Deficiência de funcionários e de estrutura obriga médicos do hospital a suspender cirurgias
Medida afeta usuários de centro de ortopedia da unidade municipal
A dona de casa Andréa Eliza Andrade também fraturou o ombro na última sexta-feira, quando foi atropelada por uma moto. Ela espera em casa, enquanto os médicos tentam agendar uma cirurgia para ela em outro hospital de Campinas. O adolescente Vítor Paulo da Silva, de 13 anos, fraturou a perna direita ao cair de uma bicicleta na última sexta-feira.
Ele também aguarda por uma transferência para outro hospital porque não há perspectiva de que seja operado nos próximos dias no Ouro Verde, uma espera que poderia agravar o seu quadro. “O meu filho pode ser prejudicado por causa dessa espera”, diz a auxiliar de limpeza Selma Pereira da Silva.
O hospital enfrenta desabastecimento de insumos e falta de reposição de trabalhadores há pelo menos seis meses, mas a situação se agravou nos últimos dias, de acordo com o coordenador de Ortopedia do hospital e diretor da Associação dos Colaboradores do Hospital Ouro Verde, José Luís Amim Zabeu. Apenas na ortopedia, o déficit é de cinco médicos. Das 110 cirurgias ao mês realizadas até outubro do ano passado, apenas 40 estão sendo feitas, todas elas de pequeno porte. Nos últimos três meses, 39 funcionários da equipe de enfermagem e 15 médicos pediram demissão e as vagas não foram ocupadas. No pronto socorro, a escassez de funcionários prolonga o tempo de espera dos pacientes. A unidade de clínica médica atende em média 800 pacientes por dia e o plantão, que deveria ter sete médicos, conta com cinco ou seis. “Segunda-feira, que costuma ser um dia mais cheio, a falta de funcionários impacta mais no tempo de espera. Hoje, a média é de cinco horas”, afirma o médico Marcelo Augusto, coordenador do OS Adulto.
Para conter os gastos, a Administração municipal suspendeu a realização de horas extras e dois leitos da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e da saúde mental foram fechados, segundo denunciou a associação. Além do déficit de funcionários, o hospital também sofre com a falta de insumos e equipamentos, como luva cirúrgica, coletor para urina e cateter.
De acordo com Edison Laércio de Oliveira, diretor do Sindisaúde, a situação está no limite, mas os funcionários têm se esforçado para evitar mais prejuízos à população.
“No momento em que isso não for possível, quando esse quadro atingir a integridade dos funcionários, vamos chamar os trabalhadores para uma paralisação, o que, infelizmente, vai piorar a situação. Por isso, eles estão fazendo de tudo para contornar o problema e estamos em estado de alerta”, afirma.
Reunião
Uma reunião entre a Secretaria Municipal de Saúde e representantes da Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM) foi realizada ontem à tarde.
Eles discutiram a finalização de um novo termo aditivo para que recursos da ordem de cerca de R$ 15 milhões, já repassados do Fundo Nacional de Saúde para o Fundo Municipal de Saúde (FMS), sejam empregados no Hospital Municipal Ouro Verde. De acordo com o secretário Fernando Brandão, a expectativa é de que o repasse seja feito em até um mês.
Na reunião, também foi discutida a dívida de R$ 10 milhões que a SPDM cobra da Secretaria Municipal de Saúde. A Prefeitura não admite os valores cobrados, mas reconhece que deve. “Os representantes da SPDM trouxeram papéis que comprovam a dívida. A gente sabe que ela existe e já definimos fórmulas de como fazer o pagamento e o Conselho Municipal de Saúde vai avaliar”, afirma.
Fonte: Correio Popular