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13/03/2012

Ouro Verde dispensa pacientes

Deficiência de funcionários e de estrutura obriga médicos do hospital a suspender cirurgias

O déficit de funcionários e a falta de estrutura no Complexo Hospitalar Ouro Verde obrigam os médicos a dispensar os pacientes que aguardam por cirurgias consideradas eletivas. Muitos deles ocupam leitos do pronto-socorro do hospital, mas, como não há perspectiva de que as cirurgias sejam feitas nas próximas três semanas, os pacientes vão precisar aguardar o surgimento de uma vaga, em outro hospital, em casa. A medida não coloca em risco a vida dos pacientes, mas demonstra o caos em uma das principais unidades da rede pública de saúde de Campinas.

Medida afeta usuários de centro de ortopedia da unidade municipal
 
O motoboy Ricardo Berto da Silva, de 21 anos, sofreu um acidente de moto no último domingo e sofreu uma fratura no fêmur. Ele aguarda por uma cirurgia ainda no pronto-socorro, na chamada sala vermelha, onde os pacientes graves recebem os primeiros atendimentos. O caso não é considerado grave e ele poderia aguardar pela cirurgia na enfermaria do hospital, mas a unidade já está com agenda de cirurgia lotada pelas próximas três semanas.
 
A esperança dos médicos é de conseguir uma vaga para o rapaz em outro hospital da cidade. Enquanto ela não aparece, a angústia de Silva só aumenta. “Não estou aguentando de dor. Preciso me recuperar logo porque tenho dois filhos para criar e preciso voltar a trabalhar logo”, afirma.

A dona de casa Andréa Eliza Andrade também fraturou o ombro na última sexta-feira, quando foi atropelada por uma moto. Ela espera em casa, enquanto os médicos tentam agendar uma cirurgia para ela em outro hospital de Campinas. O adolescente Vítor Paulo da Silva, de 13 anos, fraturou a perna direita ao cair de uma bicicleta na última sexta-feira.

Ele também aguarda por uma transferência para outro hospital porque não há perspectiva de que seja operado nos próximos dias no Ouro Verde, uma espera que poderia agravar o seu quadro. “O meu filho pode ser prejudicado por causa dessa espera”, diz a auxiliar de limpeza Selma Pereira da Silva.

O hospital enfrenta desabastecimento de insumos e falta de reposição de trabalhadores há pelo menos seis meses, mas a situação se agravou nos últimos dias, de acordo com o coordenador de Ortopedia do hospital e diretor da Associação dos Colaboradores do Hospital Ouro Verde, José Luís Amim Zabeu. Apenas na ortopedia, o déficit é de cinco médicos. Das 110 cirurgias ao mês realizadas até outubro do ano passado, apenas 40 estão sendo feitas, todas elas de pequeno porte. Nos últimos três meses, 39 funcionários da equipe de enfermagem e 15 médicos pediram demissão e as vagas não foram ocupadas. No pronto socorro, a escassez de funcionários prolonga o tempo de espera  dos pacientes. A unidade de clínica médica atende em média 800 pacientes por dia e o plantão, que deveria ter sete médicos, conta com cinco ou seis. “Segunda-feira, que costuma ser um dia mais cheio, a falta de funcionários impacta mais no tempo de espera. Hoje, a média é de cinco horas”, afirma o médico Marcelo Augusto, coordenador do OS Adulto.

Para conter os gastos, a Administração municipal suspendeu a realização de horas extras e dois leitos da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e da saúde mental foram fechados, segundo denunciou a associação. Além do déficit de funcionários, o hospital também sofre com a falta de insumos e equipamentos, como luva cirúrgica, coletor para urina e cateter.

De acordo com Edison Laércio de Oliveira, diretor do Sindisaúde, a situação está no limite, mas os funcionários têm se esforçado para evitar mais prejuízos à população.

“No momento em que isso não for possível, quando esse quadro atingir a integridade dos funcionários, vamos chamar os trabalhadores para uma paralisação, o que, infelizmente, vai piorar a situação. Por isso, eles estão fazendo de tudo para contornar o problema e estamos em estado de alerta”, afirma.

Reunião

Uma reunião entre a Secretaria Municipal de Saúde e representantes da Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM) foi realizada ontem à tarde.

Eles discutiram a finalização de um novo termo aditivo para que recursos da ordem de cerca de R$ 15 milhões, já repassados do Fundo Nacional de Saúde para o Fundo Municipal de Saúde (FMS), sejam empregados no Hospital Municipal Ouro Verde. De acordo com o secretário Fernando Brandão, a expectativa é de que o repasse seja feito em até um mês.

Na reunião, também foi discutida a dívida de R$ 10 milhões que a SPDM cobra da Secretaria Municipal de Saúde. A Prefeitura não admite os valores cobrados, mas reconhece que deve. “Os representantes da SPDM trouxeram papéis que comprovam a dívida. A gente sabe que ela existe e já definimos fórmulas de como fazer o pagamento e o Conselho Municipal de Saúde vai avaliar”, afirma.

Fonte: Correio Popular

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