O atual vice-prefeito de Campinas, cidade a 93 km de São Paulo, Demétrio Vilagra (PT), deve assumir o posto de prefeito da cidade nesta terça-feira (23), em substituição ao ex-chefe do Executivo municipal Hélio de Oliveira Santos (PDT), que teve seu mandato cassado no último fim de semana por suspeita de corrupção. Apesar da cerimônia oficial programada para esta manhã, Vilagra irá assumir o cargo já sob ameaça de ter de abandoná-lo muito em breve.
O vice-prefeito é investigado pelo Ministério Público por fraudes em contratos da Sanasa (Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento de Campinas) e em irregularidades em loteamentos imobiliários. Ele chegou, inclusive, a ser preso em maio deste ano durante uma operação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) na cidade. Na ocasião, a mulher do ex-prefeito Helio de Oliveira Santos também foi detida. Foi justamente por suspeita de envolvimento no esquema da Sanasa que Santos foi cassado.
Duas ameaças de pedido de abertura de CP (Comissão Processante) contra Vilagra já circulavam pela Câmara na segunda-feira (22). Um deles é de autoria do vereador Valdir Terrazan (PSDB). De acordo com Terrazan, o documento, que ainda está em fase de elaboração, deve ficar pronto e ser entregue logo após a posse de Vilagra, ainda nesta terça-feira. Além do pedido de CP, o vereador afirmou que vai solicitar o afastamento temporário.
- Então, primeiro vota-se o requerimento da [comissão] processante e, se for aprovado, será votado o afastamento. O afastamento é temporário até durar a comissão, ou seja, 90 dias.
A reportagem do R7 tentou entrar em contato com Demétrio Vilagra (PT), mas não conseguiu resposta até a publicação desta notícia.
Segundo o presidente da Câmara dos Vereadores de Campinas, Pedro Serafim Júnior (PDT), outro pedido de CP, esse já entregue, veio da bancada do PSOL. Mas, de acordo com ele, como Vilagra ainda não assumiu o cargo, é necessário esperar para o pedido ter validade.
Desastre
Terrazan afirmou que espera que o pedido de CP seja aceito e considerou a nova posse como um “desastre” para a cidade.
- Sobre o vice-prefeito, que será agora o atual prefeito, paira muito mais [que sobre o ex-prefeito]: tem a questão da prisão dele, tem a denúncia do Ministério Público. Então, tem fatos muito contundentes sobre o próximo prefeito. Ele chegou a ser preso, e você ter um prefeito vinculado a uma imagem de prisão é realmente desastroso.
A avaliação é a mesma feita pelo cientista político conselheiro da ONG Voto Consciente, Humberto Dantas, que considera a crise política de Campinas“no mínimo muito ruim” para a cidade.
- Tira-se um prefeito que, pelo menos pelo julgamento político, é um prefeito corrupto, mas você oferta a cadeira para um vice que estava ligado à ponta do iceberg. Quer dizer, quando tudo começou, os grandes responsáveis pelos escândalos municipais eram o vice e a primeira-dama. Você tira, então, o prefeito para colocar no lugar o vice, que é o homem que estava de férias, que ficou foragido, que ficou marcando data para voltar ao país, é no mínimo muito ruim.
Dantas conta que, caso o vice-prefeito seja cassado, quem assume o cargo de chefe do Executivo municipal é Pedro Serafim Júnior, chefe da Câmara.
Cassação
A Câmara de Vereadores de Campinas decidiu, na madrugada do último sábado (20), cassar o mandato do então prefeito da cidade Hélio de Oliveira Santos. Ele era acusado de estar envolvido em um esquema de fraudes nos contratos da Sanasa, no sistema de liberação de loteamentos e na instalação de antenas de celulares na cidade.
Segundo a assessoria de imprensa da Câmara, 32 vereadores foram favoráveis à cassação, apenas Sérgio Benassi (PCdoB) votou contra. A sessão para definir o futuro do Dr. Hélio, como era conhecido, teve início na manhã da quinta-feira (18) e durou mais de 44 horas. Nesse período, o processo de 1.629 páginas foi lido para todos os presentes.
Fonte: Portal R7