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02/05/2012

Fraternidade e saúde

Leia o artigo do coordenador do sindicato Marionaldo Maciel, publicado no Correio Popular, dia 28/04/12

Às vezes, tem-se a grata surpresa de saber que alguma coisa que se disse ou algum ato praticado ajudou alguém sem mesmo conhecê-lo. Gastei três semanas atrás de peças para fazer reparo no meu veículo. Bati em várias autopeças em busca de quatro faróis de milha. Os balconistas foram unânimes em afirmar que aquelas peças não existiam mais. Na Avenida Jorge de Tibiriçá, Vila Marieta, minha busca chegara ao fim. Batata, o atendente, chamou me pelo nome, perguntando afinal o que tanto eu procurava. Mais uma vez expliquei a minha necessidade. Pedi ume um tempo, enfiou-se entre os biombos e as prateleiras. Após alguns minutos, voltou com os faróis.

O que esse fato tem a ver com o tema fraternidade e saúde? Trata-se de uma situação em que o sentido não está aparentemente relacionado, mas sim o desfecho. Aquela figura amável abriu um sorriso e me entregou as caixas contendo os faróis. Feliz, dirigi-me para pagar. Batata informou à caixa que não era para cobrar e que eu estava autorizado a levar as peças. A justificativa pela não cobrança saiu quase como um apelo: “Meus pais fazem uso de medicamentos do postinho.
Antes de sair de casa assisti à denúncia que você fez da falta de remédio. Assistimos juntos, meus pais e eu, e isso criou neles a expectativa de que o mais breve possível haverá os remédios de que tanto necessitam”, arrematou, dizendo que os remédios de que seus pais precisam custavam bem mais do que os faróis. Desconcertado, ouvi ainda outras pessoas comentarem que a falta dos remédios na rede consistia num crime. Enfim, o drama dos pais do Batata era deles também.

Não sei por que, mas veio-me à mente o dueto que Marcelo D2 fez com Arlindo Cruz, quando declamaram o bem humorado ditado popular “Se o que tá errado e dá pra consertar, o que não tem remédio, remediado está”. É completamente diferente a minha busca pelas peças da peregrinação que os usuários da saúde pública fazem para obter o remédio de que tanto precisam. Não há uma analogia entre os dois casos, exceto as respostas que mais ouvi. Quantas e quantas vezes os usuários obtêm como respostas em busca de remédio: “Não, não temos”; “Está em falta”, ou ainda, “Não se produz mais, está fora de linha”.

As peças que buscava não têm relação com os medicamentos. Comparação é descabida. Entretanto, é doloroso ver as grandes dificuldades de quem precisa de um remédio e não o encontra na rede na hora que mais precisa. Esperar as providências oficiais principalmente quando se trata de remédios, pode custar vidas. Não há sofrimento mais confrangente do que o da privação de remediar a dor.

Nos últimos doze meses, tem sido assim a sina de quem precisa de medicamento e, de posse da receita, bate à porta das unidades básicas. Parece que esse drama pode se agravar. São mais de 39 medicamentos faltosos na rede de Campinas. A autoridade pública contesta os números.Diz que são apenas 24. Serem 24 ao invés de 39 os remédios faltosos é algo que não diminui o drama de quem precisa. É oportuno que o tema da Campanha da Fraternidade seja a saúde na sua dimensão solidária, comunitária e política.

A crise na saúde pública nos convida à reflexão e, dos governantes, exige mais ação: no tocante aos investimentos, há necessidade de mais recursos do governo federal, estadual e municipal, acompanhados de fiscalização mais ostensiva na medida em que se usam inadequadamente os escassos recursos existentes; soma-se a isto que é preciso investir na modernização das condições dos equipamentos de saúde que só têm piorado; quanto à falta de pessoal e de remédio, não dá para negligenciar, pois a solução é responsabilizar os agentes públicos por omissão, porque quando o poder público deixa de proteger o cidadão por falta de providências oficiais, lamentavelmente o caos está instalado. Em permanecendo esse caos, com o perdão do trocadilho, os serviços de saúde pública estão gravemente enfermos e, lamentavelmente, sem perspectiva de uma cura breve.

Marionaldo Fernandes Maciel é coordenador do Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Municipal de Campinas

Fonte: Correio Popular

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