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10/08/2009

Isolamento dos doentes é a maior arma contra gripe

Reportagem contém orientações gerais da COVISA

Diante de uma doença de comportamento ainda desconhecido e que mostra maior agressividade que a influenza sazonal, pessoas com sintomas devem evitar contato social, e até mesmo em casa, para romper a cadeia de transmissão, alerta diretora da Covisa

de as autoridades sanitárias não disporem de dados mais concretos sobre a gripe suína, a evolução dos casos já mostrou que o vírus influenza A (H1N1) tem um comportamento diferente do sazonal em várias aspectos. Além de evoluir para quadros mais graves e levar à morte pessoas jovens e saudáveis que, em geral, enfrentam a gripe sazonal apenas ficando em repouso alguns dias ou mantendo suas atividades diárias mesmo com indisposição, o novo vírus se mostra particularmente agressivo em mulheres grávidas e pessoas com obesidade mórbida.

Para esclarecer alguns aspectos específicos da nova gripe, a reportagem do Correio Popular entrevistou a diretora da Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa) da Secretaria de Saúde de Campinas, Maria Filomena Gouveia Vilela, que reitera que um dos pontos básicos para reduzir a disseminação do vírus é o isolamento dos doentes, já que a transmissão se dá diretamente pelo contato com a pessoa infectada ou com secreções liberadas por ela. A diretora destaca que, apesar de a maioria dos casos evoluir para cura, o vírus se manifesta de forma diferente e ainda desconhecida de pessoa para pessoa, por isso o isolamento do doente, evitar aglomerações e redobrar cuidados com higiene pessoal são as defesas contra essa doença para a qual ainda não existe vacina.

Correio Popular - A gripe suína é mais grave que a sazonal?

Maria Filomena Gouveia Vilela - Dizer que é mais grave é complicado, até porque estamos vivendo uma epidemia que ainda não acabou, uma doença que ainda está em curso. Não temos como concluir ainda porque não podemos comparar situações que ainda são não são passíveis de comparação. Não se encerrou esse processo de pandemia ou de epidemia localizada, no caso em Campinas.

Mas a gripe suína tem evoluído para gravidade em pessoas em que isso não seria esperado, jovens e sem comorbidade (doença associada). Esse comportamento não é diferente da sazonal?

Sem dúvida. O que se considera como doença grave é aquela que pode levar à morte. Esse é o primeiro critério para dizer que uma doença é grave. É difícil fazer comparação com outras infecções por influenza sazonal. Mas o que fica evidenciado pela casuística observada em vários locais, inclusive no Brasil, é que a gripe suína tem acometido e levado a casos de gravidade e óbito pessoas jovens, uma grande parte sem comorbidade. Também tem apresentado novos grupos de risco, como as gestantes e os obesos mórbidos. Essas são situações novas. Outro aspecto importante é que, por se tratar de uma doença nova, a grande maioria das pessoas, ou melhor todos nós -- com exceção dos idosos que, antes, na pandemia de gripe asiática, já entraram em contato com outra variante do H1N1 -- estamos suscetíveis. E não dispomos de medida de proteção, não temos vacina. Esse é um aspecto que aponta que estamos falando de uma doença que tem gravidade sim.

Além das medidas de higiene pessoal e outras que vêm sendo preconizadas, o que é fundamental para tentar conter a transmissão?

Quando se fala de uma doença nova, não temos medidas preventivas. O que é possível fazer são medidas mitigadoras, medidas que não são farmacológicas (não é remédio nem vacina). São outras medidas. Uma delas, a principal, e que temos dito constantemente, é o isolamento do doente. Se a pessoa está com febre e tosse, os dois principais sinais de síndrome gripal, tem que ser afastada de suas atividades porque é ela que transmite o vírus para os outros. É ela que traz o contágio para outras pessoas. É apenas dessa forma que outros ficam doentes: pelo contato direto ou através do contato indireto com a secreção que esse doente possa eliminar. Essa é a forma de transmissão. Então, quando o doente se isola das atividades sociais -- lógico que não isolamento total, ele tem que ir ao médico, ficar atento aos sinais de gravidade etc. --, reduz as chances de contaminar outras pessoas. O isolamento é uma medida de mitigação, não de controle. A epidemia está acontecendo, os casos aumentando e as medidas são para diminuir o curso da doença. E essa é a principal. Outra medida mitigatória recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é o afastamento social, que é a questão das escolas. Essas duas medidas juntas têm um impacto importante na diminuição da progressão dos casos. Por isso, insistimos tanto nessas questões. Hoje, são essas as armas de que dispomos. Fora isso, há a questão farmacológica, dos medicamentos, que no Brasil estão disponíveis para os casos graves e agora passam a ser liberados também para os grupos de risco.

Sobre as escolas, as aulas foram adiadas até o dia 17. Isso é suficiente?

A situação epidemiológica tem que ser analisada dia a dia, se os casos estão crescendo, como está a gravidade. Essas medidas de afastamento social, no caso particularmente das escolas, se forem tomadas por período muito longo, além de quatro semanas, têm o impacto diminuído porque o vírus começa a achar outras estratégias para descobrir os suscetíveis. Os vírus são espertos. Então, há que ter cuidado na adoção dessas medidas para não ser uma coisa muito longa. Primeiro, porque tem impacto social forte. É preciso avaliar até que momento ela pode ser eficaz. Em Campinas, cada cidade é diferente da outra, temos que considerar que esse processo de prorrogar as férias começou no dia 27 de junho, estamos em 7 de agosto, já estávamos sem aula e continuamos tendo poucos casos em crianças. A grande concentração é na faixa de 20 a 40 anos. Então, o adiamento da volta às aulas é uma medida importante por expor menos as crianças, que são um grupo muito vulnerável, e para termos, no conjunto, uma medida que tem impacto na expansão da epidemia. Na verdade, o objetivo é mudar a curva. Ao invés de uma curva num crescendo intenso, ter uma curva mais leve significa menos gente doente ao mesmo tempo. Isso é muito importante para o sistema de saúde, significa que temos menos crianças e adultos jovens doentes, e que o sistema consegue dar conta de atender esse contingente com qualidade. A saúde tem limites de vagas e respiradouros. Ter cem crianças ao mesmo tempo precisando de internação em unidade de terapia intensiva (UTI) e ter 20 faz uma diferença fundamental. Isso é garantia de vida.

Como está a curva hoje?

Devemos soltar um boletim epidemiológico na semana que vem. E é preciso definir um momento de corte. Por análises anteriores de outras pandemias de H1N1 e de outros influenza, geralmente, esse tipo de vírus tem uma duração de 6 a 12 semanas. Não podemos jurar que será assim, mas a estimativa em termos de tempo se baseia em experiências anteriores. Considerando que nosso primeiro caso foi em 19 de junho, estamos hoje encerrando a sétima semana. A expectativa é de termos casos até meados ou final de setembro, mas esse é o limite máximo da possibilidade de expansão desse tipo de cepa pandêmica. Claro que ainda continuaremos a ter casos espalhados pelo mês de outubro. Mas, geralmente, esse tem sido o período de duração de uma epidemia de influenza.

O aumento da temperatura ajuda a reduzir a transmissão? Por quê?

Geralmente, esse tipo de vírus tem tendência à propagação mais intensa no Inverno porque, em situações de aglomeração, fecham-se as janelas, tem menos ventilação, menos ensolação. Esses são fatores de favorecimento das doenças respiratórias, particularmente do influenza. O clima seco, que neste Inverno por sorte não ocorreu, também é um fator negativo para doenças respiratórias porque há maior comprometimento do sistema de defesa. Este ano, o Inverno úmido favoreceu, caso contrário o número de doenças respiratórias poderia ser maior.

As grávidas, hoje, são um grupo particularmente de risco
Fonte: DA AGÊNCIA ANHANGUERA

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