Uma sucessão de publicações no Diário Oficial do Município (DOM) de contratos com empresas investigadas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de Campinas provocou ontem a queda do presidente da Sanasa, Lauro Péricles Gonçalves, e de pelo menos três diretores da empresa de economia mista. O anúncio da troca de comando será feito hoje de manhã pelo prefeito Demétrio Vilagra (PT). A gota d’água foi o contrato com a Gutierrez Empreendimentos e Participações Ltda., no valor de R$ 15,5 milhões, para a realização de serviços de recomposição de vias públicas, divulgado ontem pela Sanasa. No primeiro dia do governo de Demétrio, a Sanasa também havia publicado um aditamento no valor de R$ 400 mil com a Saenge Empreendimentos, outra investigada pelo Ministério Público (MP).
Nos bastidores, Demétrio teria repreendido a atitude da empresa pública e solicitado que não fossem feitos novos contratos ou aditamentos com empresas investigadas pela Promotoria, ou que as renovações fossem justificadas ao Executivo previamente. Segundo informações de integrantes do primeiro escalão do governo, os pedidos não foram acatados pela atual diretoria, o que teria provocado uma reação imediata de Demétrio com a determinação da troca de três diretores e do presidente.
Devem deixar a diretoria Marco Antônio Gonçalves, que ingressou na função de diretor técnico após a saída de Aurélio Cance Júnior. Cance foi preso na operação do Gaeco e é acusado de integrar um esquema de corrupção, fraudes em licitações e formação de quadrilha. Maria de Fátima Tolentino, da diretoria financeira, e Cláudio Quércia, diretor comercial, também estão na lista de exonerações.
O prefeito faz hoje um pronunciamento público sobre as demissões e aproveita também para anunciar parte do seu novo quadro de secretários. Conforme adiantou o Correio, assume a função de coordenador de Comunicação o jornalista Otávio Antunes, no lugar de Luciana Paulo, nomeada pelo então prefeito Hélio de Oliveira Santos (PDT), após a exoneração de Francisco de Lagos, apontado pelo MP como um dos integrantes do esquema criminoso do Caso Sanasa.
Outro anúncio de Demétrio é a nomeação do advogado Nilson Lucílio para ocupar a chefia de Gabinete. O cargo é um dos mais importantes do Executivo e esteve nas mãos da ex-primeira-dama Rosely Nassim Jorge Santos, durante os seis anos de governo Hélio. Rosely só deixou a função depois de ser apontada como líder do esquema criminoso de fraudes na Sanasa. No seu lugar entrou Orlando Marotta, funcionário de carreira que exerceu uma administração- tampão na pasta.
Caso Sanasa
A Sanasa foi alvo este ano de uma investigação do Gaeco que identificou um núcleo de corrupção envolvendo integrantes do primeiro escalão do governo Hélio — incluindo o atual prefeito Demétrio. Segundo o MP, contratos de obras e de prestação de serviços foram fraudados e funcionários da Prefeitura receberiam entre 5% a 10% do valor total de cada licitação. A líder do esquema criminoso seria Rosely, que ocupava até o início deste ano o cargo de chefe de Gabinete.
Pelo menos sete empresas também foram apontadas como integrantes do esquema de corrupção desenhado pelo Gaeco. Na Sanasa, após as denúncias do MP, apenas Aurélio Cance foi exonerado do seu cargo.
Indefinições
Demétrio também decide quem vai ocupar as vagas nas secretarias de Meio Ambiente e Cultura. A indefinição maior é na pasta ocupada anteriormente por Renata Sunega. Integrantes dos movimentos culturais de Campinas se manifestaram contrários à indicação de Gabriel Rapassi, diretor da pasta e integrante do PCdoB. Sunega deixou a secretaria após alegar que não compactuava com a gestão petista, que chegou ao poder em Campinas após a cassação do mandato de Hélio.
Outra definição é na Secretaria de Meio Ambiente. O secretário Paulo Sérgio Garcia de Oliveira deixou a função após ter seu nome envolvido em supostas irregularidades de contratos feitos pela sua empresa Arbórea Ambiental com a Sanasa. O pedido de exoneração do cargo ocorreu no segundo dia de mandato de Demétrio. Depois disso, o petista fez um convite para o pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Mohamed Habib. O pró-reitor ainda não se pronunciou sobre o assunto.