O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) investiga pelo menos 15 vereadores da Câmara de Campinas, por suspeita de terem recebido propina para evitar a cassação e o afastamento do então prefeito, Hélio de Oliveira Santos (PDT). Os parlamentares serão chamados para depor no Ministério Público (MP).
Segundo os promotores do Gaeco, há indícios de que os parlamentares de Campinas vinham recebendo propina já no início do processo da Comissão Processante (CP) que cassou o mandato de Hélio. Os valores, de acordo com a Promotoria, podem ter sido pagos em parcelas e o dinheiro, inicialmente, foi oferecido aos vereadores para evitar o afastamento de Hélio de seu cargo. Estão no foco do MP os parlamentares que votaram contra o afastamento do pedetista durante a CP, em etapas anteriores à votação definitiva de sábado, que cassou o prefeito.
No dia 15 de junho deste ano, a Câmara rejeitou um pedido de afastamento de Hélio por 16 votos favoráveis e 15 contrários, além de duas abstenções. O requerimento de autoria do vereador Valdir Terrazan (PSBD) determinava o afastamento temporário do prefeito durante os 90 dias de trabalho da CP. Eram necessários 22 votos, dois terços da Casa, para aprovar o pedido. O resultado favorável a Hélio foi costurado nos bastidores do Legislativo e do Palácio dos Jequitibás graças a uma articulação que envolveu os vereadores da base, integrantes da Prefeitura de diversos escalões, advogados do prefeito vindos de São Paulo e até o próprio Hélio
A rejeição do pedido de afastamento foi justificada pelos vereadores que integravam a base governista pelo fato de ela apresentar questionamentos jurídicos. Um documento distribuído no plenário lembrava que a proposta do tucano, que estava sendo reapresentada, já tinha sido considerada inconstitucional pela assessoria jurídica da Casa no dia 30 de maio. O material trazido pelos vereadores da oposição invocou, na época, o artigo 128 do Regimento Interno da Câmara, que não admite proposições inconstitucionais e ilegais. O documento ainda veio acompanhado de um parecer do jurista Tito Costa, reiterando que o afastamento do prefeito não teria autorização legal.
No dia 1º de agosto, um novo pedido de afastamento, desta vez de autoria do vereador Petterson Prado (PPS), também foi rejeitado e nem chegou a ir para o plenário para votação.
Compra de votos
Na semana em que a cassação do mandato de Hélio seria votada na Câmara, a gravação de uma conversa entre o vereador Aurélio José Cláudio (PDT) e o advogado Ricardo Marreti indicou um suposto esquema de compra de votos dentro do Legislativo. Aurélio pediu desculpas ao prefeito por ter envolvido o nome do pedetista em assuntos pessoais e depois se retratou com seus pares na Câmara, no seu tempo de tribuna, pouco antes da votação da cassação. Ele diz que a conversa era informal e que foi induzido pelo advogado que fez a gravação
Os vereadores que votaram a favor da cassação negam desde a última semana, quando a conversa de Aurélio Cláudio veio à tona, que tenham qualquer envolvimento na suposta compra de votos citada pelo parlamentar do PDT. Alguns colegas de Aurélio no Legislativo chegaram a exigir que o pedetista se retratasse sobre as declarações de possíveis negociações de propina em troca de voto.
Ao tomar conhecimento das investigações do Gaeco, boa parte deste grupo de parlamentares continua a negar qualquer envolvimento com negociatas.
Fonte: Correio Popular