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19/05/2008

Vereadores viram "covers" de Hélio, diz jornal

Confira matéria no Correio Popular desta segunda 19/05/08:

"A concorrência acirrada e o medo de perder uma das 33 cadeiras na Câmara dos Vereadores de Campinas têm feito com que a grande maioria dos legisladores lance mão de "miniobras" como "isca" para conquistar um voto dos 719.259 eleitores campineiros. Enquanto uns se transformam em "covers" de prefeito e realizam obras de manutenção em praças e canteiros da cidade, outros são rápidos em fixar faixas informando a quem tiver paciência para ler que aquela obra -- executada pela Prefeitura de Campinas -- foi feita a partir de uma solicitação do parlamentar. Alguns dizem até que há assessores responsáveis por "fiscalizar" a entrega das obras. Tão logo ficam prontas, tascam uma publicidade.

Tanto que, no ano passado, os 33 vereadores foram responsáveis por enviar à Administração municipal 8.156 indicações, que nada mais são do que pedidos de poda de árvores, operação tapa-buraco, limpeza em terrenos baldios, entre outros.

Apesar de terem sido eleitos para legislar e fiscalizar o Executivo, os vereadores Aurélio José Cláudio (PDT), presidente do Legislativo campineiro, e Noel Cordeiro Teixeira (PR) querem mesmo é atuar como "prefeito". A reportagem flagrou a prestação de serviços de manutenção de espaços públicos promovidos pelos dois parlamentares.

O pedetista tinha um jardineiro -- contratado pela Prefeitura para trabalhar na Secretaria de Cooperação Internacional, por um salário de R$ 3,2 mil -- cortando plantas e retirando grama de um jardim no bairro Santa Lúcia. Depois que o assessor foi exonerado após ser denunciado como "fantasma", Aurélio recorreu à "ajuda" de amigos para continuar a fazer manutenção nos canteiros da região -- seu reduto eleitoral.

Há duas semanas, a reportagem do Correio flagrou uma equipe com seis homens vestindo camisetas que estampavam o nome de Aurélio trabalhando na manutenção de um canteiro na Avenida Ruy Rodriguez. "Eu pedi aos comerciantes que pagassem o serviço. O povo cobra da gente", disse ele, numa entrevista anterior. A ousadia de Aurélio é tão grande que ele se fez conhecida na região pela cor laranja que tinge tudo numa extensa área entre o Jardim Novo Campos Elíseos e o Jardim Santa Lúcia.

Na praça de esportes que leva o nome de seu pai -- Antonio Cláudio --, por exemplo, o laranja colore bancos, guias de calçadas, postes de iluminação de rua, pontos de ônibus, floreiras e muretas de concreto. O mesmo acontece no Balão do Laranja e em pracinhas centrais ao longo da Ruy Rodriguez. Procurado, ele se recusou a falar com a reportagem.

Noel, que também utilizou funcionários e equipamentos da Prefeitura e da Câmara de Campinas para fazer a manutenção de uma das sete praças públicas que sua empresa -- a Loja 11 Móveis -- adotou, disse que o eleitor não quer saber se a culpa pela falta de manutenção é da Prefeitura ou do vereador. "A gente até pede para a Prefeitura, mas essas coisas demoram tanto... Não adianta pedir calma porque moro num bairro que eles (moradores) cobram poda de árvore, limpeza em terreno", justificou. Claro que, em cada uma das obras, ele faz questão de lembrar aos moradores por meio de faixas publicitárias de que aquele espaço foi adotado pela "Loja 11 Móveis".

O vereador nega que a adoção dos equipamentos públicos por sua empresa seja uma forma de driblar a legislação eleitoral, já que na região ele é conhecido como Noel da Loja 11. "Eu adotei enquanto empresário. Não quero infringir a legislação, mas quem vai dizer é a Justiça." Tanto Aurélio quanto Noel estão sendo investigados pela Justiça Eleitoral por propaganda antecipada.

Autoria

Nem tão audaciosos como os colegas "prefeitos", mas não menos tímidos que os façam enrubescer por querer a autoria de obras executadas pela Prefeitura na cidade, outros vereadores espalham faixas lembrando que eles foram "responsáveis" pela pavimentação, pela limpeza do terreno, pela instalação de um semáforo, pela poda de árvore etc. O vereador Jorge Schneider (PTB) é um dos que adotam o lembrete aos moradores. "Temos que prestar contas para a população do que estamos fazendo", disse ele, afirmando que não tem utilizado essa estratégia neste ano. "Em respeito à Lei Eleitoral e a vocês (Correio Popular, que tem feito matérias denunciando propaganda antecipada)", disse.

No ano passado, Schneider e Luiz Riguetti (DEM), que dividem o mesmo reduto eleitoral, protagonizaram uma discussão acirrada no plenário da Casa. O democrata ficou irritado com uma carta enviada por Schneider informando aos moradores que a pavimentação de uma determinada rua no Jardim Aurélia havia sido feita após um pedido seu à Administração municipal. Riguette, na época, chamou o colega de oportunista e disse que a pavimentação foi pedida por ele. "Houve realmente um erro da minha assessoria. Foi um engano", reconheceu Schneider.

Outro que faz questão de dar o seu recado é o vereador Sebastião dos Santos (PMDB). Uma tenda branca com uma inscrição de seu nome "passeia" por toda a região do Jardim Aurélia, Garcia e Vila Castelo Branco. "Os moradores fazem festas e pedem a barraca emprestada. Não é propaganda eleitoral porque não coloco o cargo vereador. Esse é meu nome", justifica.

Quanto à presença de homens trabalhando em jardins em pequenas obras da periferia, Santos nega que sejam seus funcionários. "Pode ser gente que tem minha camiseta e meu boné." Defensor da propaganda, o peemedebista já foi multado este ano pela Justiça. "Coloquei uma faixa, 'Dr. Sebastião e Moradores agradecem a limpeza de um terreno', e o juiz alegou que não poderia. Mas eu acho que o povo tem que saber quem batalha pelos moradores."

Prefeitura nega que esteja beneficiando parlamentares

Para Francisco de Lagos, não há como proibir a realização de benfeitorias pelos cidadãos

O coordenador de Comunicação da Prefeitura de Campinas, Francisco de Lagos, nega que o Executivo municipal não tem feito o trabalho de manutenção nos bairros da periferia. Da mesma forma, ele não concorda que o governo Hélio de Oliveira Santos (PDT) tem beneficiado os vereadores da base de sustentação ao permitir que eles executem pequenas obras, mudem as cores das guias e sarjetas e coloquem ainda faixas publicitárias nas obras entregues pela Administração municipal.

"Não podemos proibir as pessoas de fazerem benfeitorias. A Prefeitura até chegou a fazer uma campanha para estimular que a população assim o faça. No caso do Noel (vereador Noel Cordeiro Teixeira), quem adotou foi sua empresa", justificou Lagos. Mas nem a Prefeitura e nem o vereador apresentaram o convênio de adoção dos equipamentos públicos.

A reportagem ligou três dias seguidos para a assessoria de imprensa do Executivo municipal, que informou que nesse período não conseguiu falar com o chefe do Departamento de Parques e Jardins (DPJ), Ronaldo Souza.

Lagos disse ainda que a Prefeitura só abrirá algum procedimento contra o presidente da Câmara de Campinas, Aurélio José Cláudio (PDT), que pintou algumas sarjetas e guias com a cor laranja, se houver uma denúncia formal de algum morador. "Não estamos sendo tolerantes. Não existe um padrão a ser seguido." Questionado, então, se a Prefeitura teria a mesma conduta com qualquer outro morador que resolvesse pintar as guias e sarjetas da cidade com outras cores, ele mudou o discurso. "Existem normas mínimas a serem seguidas", disse, sem explicar quais seriam as normas." (RG/AAN)


Fonte: Correio Popular de 19/05/2008

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