O Ministério Público começou a decifrar as negociatas em Campinas. Assumiu corajosamente o papel que esperamos de um órgão sério e transparente, porque até o presente momento a cidade padecia de um órgão responsável e fiscalizador da coisa pública, uma vez que quem deveria fiscalizar não o faz. Refiro-me à Câmara Municipal. Com a cobertura impecável da mídia – falada, escrita e televisada - a cidade está sendo abalada politicamente pela profunda crise moral que alguns interessados preferem empurrar para debaixo do tapete. É flagrante a ilegalidade contra o patrimônio público. Em 1655, já pregava Pe Vieira: “Dilata o julgador oito meses a demanda que se pudera concluir em oito dias; dilata o ministro oito anos o requerimento que se deverá acabar em oito horas”... Ainda, para ilustrar através da literatura sobre a corrupção, recebi um conto que me apresso em publicar. E, reparando bem, nele estão contidas questões atuais que nos afligem. Começa e termina assim: ‘Deus e o diabo resolveram construir uma ponte ligando o céu ao inferno, para facilitar a comunicação entre ambos. Aprazaram certo período para a conclusão da obra, sendo que cada parte deveria construir metade da ponte. Passado período combinado, o diabo já tinha concluído a parte da ponte de que tinha sido incumbido, ligando o inferno à metade do caminho, mas a outra metade, ligando o céu à metade do caminho, ainda estava na estaca zero, pois nada ainda tinha sido feito. O diabo então foi reclamar com São Pedro, o mestre dos mestres na língua eclesiástica: “Por que vocês ainda não fizeram sua parte?” No que São Pedro respondeu-lhe: “É que no céu não existe nenhum empreiteiro”!’ Este conto nos revela mais uma vez que no ramo das construções, das concorrências e serviços públicos não existem nada inocente. Suspeita-se que algumas obras ou licitações realizadas em Campinas, na aparência são honestas, contudo percebe-se e revela-se a cada nova investigação pelo MP fraude e a respectiva propina, chamada metaforicamente de preço político. Há quem diga que atende pelo nome de Quinzinho, melhor dizendo 15%. Este é o quinhão cobrado a titulo de comissão. Basta agora saber quem se beneficiou dos quinzinhos e quantos quinzinhos são, responsabilizando-os e prendendo quem fez de assalto os cofres públicos. Entretanto, como homens e mulheres de nosso tempo não podemos aceitar passivamente a imoralidade, devemos assumir uma conduta vigilante contra todas as formas de corrupção. Mais do que isso, não devemos aceitar, em nome de nada, ações corruptoras, pois que delas resultam injustiças aos esfarrapados do mundo. Também, não devemos nos curvar obedientes aos interesses dos corruptos, pois que deles prolongam-se a miséria e o sofrimento. Ainda, não podemos admitir a malvadeza da corrupção e, muito menos, dar ouvidos ao cinismo dos corruptos, pois que deles resultam a exploração dos seres humanos. Sobretudo, não nos rendamos à corrupção, pois que dela iludem-se os incautos, machucam-se os fracos e indefesos e soterram-se os sonhos. Finalmente, devemos combater os comportamentos grosseiramente imorais e a perversidade dos corruptos, pois que ao admiti-los passivamente nos amesquinhamos como gente. Marionaldo Fernandes Maciel Coordenador do STMC Email: marionaldo.maciel@ig.com.br