A adesão dos professores da rede estadual de ensino de Campinas cresceu no segundo dia da paralisação da categoria. Na segunda-feira, apenas quatro escolas haviam parado por completo suas atividades e, ontem, grande parte das 80 unidades de ensino do município tinha algum desfalque no quadro de professores. Entre as reivindicações, a categoria pede a revogação do Decreto 53.037/08, que impõe restrições à transferência de escola e cria a avaliação de desempenho para funcionários temporários. O Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) calcula que cerca de 60% das escolas da região do Ouro Verde, na área Sudoeste de Campinas, já aderiram parcialmente e devem amanhecer fechadas hoje. O coordenador da Apeoesp em Campinas, Abrão Pereira de Araújo, acredita que a adesão ainda não foi total por resistência de alguns diretores, que não permitem a entrada de lideranças sindicais nas escolas. "Isso prejudica o nosso trabalho, mas não é só isso. Alguns estão preocupados com a própria ameaça do decreto, com medo de perder o bônus no final do ano ou foram contratados recentemente e temem perder o emprego", disse. "Nosso intuito é mobilizar o maior número de professores para a assembléia regional que realizaremos aqui na cidade nesta quinta-feira para tomarmos uma posição antes de ir para o manifesto em São Paulo na sexta-feira", ressaltou. A Secretaria do Estado da Educação reafirmou ontem, em nota oficial, que apenas 2% dos 250 mil professores da rede estadual aderiram ao movimento. Informou ainda que o decreto do governo vem ao encontro das necessidades identificadas em relação à melhoria da qualidade de ensino e aos principais problemas apontados por dirigentes de ensino e supervisores. "Nenhuma lei foi revogada. Portanto, nenhum direito do professor foi atingido", informou a nota. A Agência Anhangüera de Notícias (AAN) entrou em contato com 26 escolas da rede estadual em Campinas e constatou que metade funcionou normalmente ontem. Em outras 13 escolas, a paralisação foi parcial. No Núcleo Habitacional Vida Nova, no bairro de mesmo nome; na Ruy Rodrigues, no Parque Itajaí, e na Professor Newton Pimenta Neves, no Jardim Aeroporto, cerca de 80% dos professores pararam. Na Escola Estadual Carlos Gomes, que tinha interrompido as aulas na manhã na segunda-feira para reunião dos professores sobre a greve, apenas sete dos 20 docentes trabalharam na manhã de ontem. À tarde, as aulas ocorreram normalmente e, no noturno, oito dos 12 professores pararam. Nas escolas estaduais Professor Moacyr Santos Campos, no Jardim Nilópolis; Professora Castinauta Albuquerque, no Jardim São Marcos; Dona Veneranda Martins Siqueira, no Jardim Mercedes, e na Professor Theresina da Fonseca Pares, no Jardim Bandeira 2, a maior parte dos professores não compareceu às aulas. Ainda ontem, os presidentes de diversos sindicatos que representam a categoria se reuniram com a secretária estadual de Educação, Maria Helena Guimarães de Castro. No encontro, ela solicitou que os sindicalistas apresentem propostas para aprimorar o decreto. Os representantes vez ficaram de enviar suas sugestões. Entre os pais de alunos, as opiniões sobre a greve se dividem. Alguns consideram válida a luta da categoria, outros apontam que o ensino tem sido muito prejudicado com tantas mudanças de professores. "Um problema é a desvalorização do professor, que merece respeito, e outro é a atual qualidade do ensino. Essas mudanças todas prejudicam as crianças. Muitos professores substitutos não dão seqüência ao conteúdo que vinha sendo dado pelo colega que saiu", diz a assistente social Neide Fernandes, que tem uma filha na 3ª série do Ensino Fundamental na Escola Carlos Gomes. A faxineira Vânia Leite lembra que o seu filho, matriculado na 2ª série do Ensino Fundamental da mesma escola, já teve quatro professoras diferentes desde o início do ano letivo. "Cada vez que chega uma nova professora, todo o trabalho tem que começar de novo. A criança não está aprendendo nada", lamenta.
Fonte: Jornal Correio Popular 18/06/2008