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26/01/2012

Leia artigo de Marionaldo Maciel : Eleição indireta em Campinas

Publicado no Jornal Correio Popular

Campinas vive um drama sem precedentes na sua história. O quadro político campineiro se deteriorou e parece mudar para pior quando mudam as circunstâncias. A proposta de eleição indireta para prefeito nos leva a uma certeza de que o resultado já está traçado. A partir da cassação do ex-prefeito Demétrio, a engenharia orquestrada é manter o mandato-tampão do atual prefeito até o final do ano.

Pedro Serafim foi o único beneficiário do processo político da cidade. Caiu no seu colo a Prefeitura. Agora ele está investindo para obter a maioria dos votos de seus colegas na Câmara Municipal para estender o mandato por mais onze meses. Tudo indica que os edis não irão se arriscar a entregar a máquina pública para algum aventureiro fora de suas relações. Aliás, ter cargo no Executivo é objeto de desejo dos vereadores. Serafim conta com a máquina pública e com as benesses que ela pode proporcionar.
 
A estratégia é lotear a Prefeitura entre os vereadores. A fórmula é audaciosa e a despeito de todas as regras morais. Não aprovar a lei que trata do nepotismo na administração pública foi a primeira parte da orquestração para viabilizar a acomodação dos vereadores e seus parentes; a segunda, é a confirmação da eleição indireta, a saber: pegam-se quinhentos cargos públicos de livre provimento, rateia-se com vinte vereadores, perfazendo vinte e cinco cargos per capita de vereador para indicação ao Executivo; em seguida, expedem-se as portarias de nomeação com salário médio de três mil reais por afilhado, equivalendo ao montante de setenta e cinco mil reais; multiplicando a somatória desses salários por onze meses teremos oitocentos e vinte cinco mil reais que os apaniguados dos parlamentares embolsarão dos cofres públicos. Daí a eles pagarem o pedágio aos seus padrinhos vai depender da engenhoca que cada um dos interessados pactuar com os seus afilhados políticos.
 

Trata-se de um perfeito trem da alegria. São quinhentos comissionados que nãovão prestar serviço algum à população e só vão inflar a folha de pagamento. Enquanto isto, a cidade está à beira de um caos em razão da desassistência da saúde com o fim do convênio com o Cândido Ferreira.

Para viabilizar a estratégia do quarto andar, a conversa tem sido com o dono do voto, o vereador, ignorando os respectivos partidos. Neste contexto, os partidos estão em xeque e a traição poderá acontecer de um lado ou de outro. Traição e suas formas nos remetem à traição de Jesus. Judas Iscariotes escolhido como um dos apóstolos tornou-se infiel e iníquo, porque era mais apegado ao dinheiro do que os gestos praticados por Jesus.

Ecoa da Bíblia essa verdade que por sua vez revela o seguinte paradoxo: “A traição não parte dos inimigos e sim dos amigos”. O Executivo e o Legislativo campineiro já foram agraciados pela prática da traição nos episódios de cassação de Hélio e Demétrio e parece que terão que passar por essa provação novamente.

Diferentemente da narrativa bíblica, as moedas de ouro são os cargos públicos. Os partidos serão desta vez os traídos na ceia da eleição indireta já que a conversa tem sido individual. Estar na máquina pública significa ganhar a visibilidade política cuja pretensão deságua na reeleição de muitos vereadores e também do próprio prefeito Serafim, que terá nove meses para se cacifar e entrar no páreo da eleição em outubro. Serafim conduziu a campanha salarial dos vereadores com sucesso, aumentando em 126% os próprios vencimentos para 2013.

A compostura do atual prefeito em exercício, cujas declarações configuram que não tem ciência da liturgia do cargo, deixa às escancaras que pretende governar o município com os vereadores, por isso não suportará traição. A fatura já foi paga com o aumento. Em tempos de BBB, o Prefeito está emparedando os vereadores, pretendendo surrupiar o seu papel fiscalizador para qual foram eleitos, em detrimento dos interesses da cidade.
 

A Câmara Municipal não é um apêndice do Executivo e sim instrumento para o seu fortalecimento. Nos termos que dispõe a Constituição, os poderes são independentes. Há uma teatralização da pior espécie em que os atores do Executivo e do Legislativo se misturam, enquanto a plateia, além de pagar a manutenção do espetáculo, é ao mesmo tempo tripudiada pela trupe de atores. A sociedade está atenta ao desgoverno instalado em Campinas e a Câmara Municipal deve exercer seu protagonismo. Não pode viver dependurada no governo e à margem da vontade da sociedade que a elegeu e a ela deve prestar contas.

  

Marionaldo Fernandes Maciel é coordenador do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Campinas


Fonte: Correio Popular

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