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10/03/2008

Caso dos "fantasmas": jardineiro se considera o lado mais fraco

Confira abaixo a matéria publicada nesta segunda-feira no Correio Popular e traz depoimento do jardineiro Mauricio da Silva Reis:

 

O pivô do maior escândalo político da história recente de Campinas está desempregado, acuado dentro de casa com vergonha de ser reconhecido na rua e disposto a deixar a cidade, rumo a Alfenas, em Minas Gerais, onde vivem muitos de seus parentes. O jardineiro Maurício da Silva Reis, de 60 anos, ocupava no papel, desde 2002, o cargo de assessor técnico departamental de nível VII -- com salário de R$ 3,2 mil -- na Secretaria de Cooperação Internacional da Prefeitura. Em 2003, ele foi transferido para o Gabinete da então prefeita Izalene Tiene (PT), com o mesmo cargo. Em ambos os locais ele era um funcionário "fantasma". Na realidade, Reis prestava serviços de manutenção e limpeza em praças da região do Jardim Santa Lúcia, bairro onde vive há 40 anos com a família. O local também é conhecido como reduto eleitoral do vereador e presidente da Câmara Municipal, Aurélio José Cláudio (PDT). Há suspeitas de que assessores do pedetista teriam se apropriado de parte do salário do jardineiro, que ficaria com apenas R$ 700,00. Apesar de o caso ter sido recentemente arquivado pela Corregedoria do Legislativo Municipal e o jardineiro exonerado pela Prefeitura, o Ministério Público abriu um inquérito civil para apurar os fatos com mais profundidade. Enquanto isso, Reis passa a maior parte do tempo sendo apontado por todos como um fantasma de carne e osso, sentindo-se injustiçado por ser o único realmente punido.

"Tô sozinho...Eu e o Pai do céu", resumiu o jardineiro em entrevista à Agência Anhangüera de Notícias (AAN), no portão de sua casa, na última sexta-feira. Desempregado depois do surgimento de todas as denúncias, Reis lamenta o fato de ter perdido a sua fonte de renda e não encontrar tranqüilidade para começar uma vida nova. "Vou esperar tudo isso passar", afirmou.

O jardineiro, que em entrevista publicada pelo Correio Popular no último dia 1º de fevereiro afirmou receber R$ 700,00 de salário -- informação que acabou negando -- agora garante receber "entre R$ 2,5 mil e R$ 2,6 mil" mensais. "O salário que saiu na reportagem (R$ 3,2 mil) era o valor bruto. O que eu recebia era bem menos", argumentou Reis, garantindo que esse valor menor era de R$ 2 mil.

Depois de versões dadas e desmentidas, seja para a imprensa ou para a Corregedoria da Câmara, Reis tem, de fato, apenas uma certeza na cabeça: a de que é o lado mais fraco da corda, aquele que sempre arrebenta. Leia, a seguir, o que o jardineiro tem a dizer sobre o escândalo que envolveu o seu nome e o de alguns políticos campineiros:

Agência Anhangüera -- Como está a vida do senhor hoje, depois do escândalo?

Maurício da Silva Reis - Minha vida hoje não está mais aquela que estava, né? Eu estava trabalhando honestamente, trabalhando, trabalhando, vivendo e juntando um dinheirinho para eu construir a minha casa aqui na frente (Reis planeja aumentar a casa onde já mora com a mulher). Toda vida foi o meu ponto de vista ter uma casa boa pra morar. Agora com esse problema aí, o jornal fez essa comigo, estou desempregado. Com esse negócio de fantasma aí eu não posso nem andar na rua mais que o pessoal está tudo tirando sarro da minha cara. Então, não quero nem ficar em Campinas mais. Quero ir embora para Minas, ficar pra lá.

Para qual cidade o senhor está pensando em ir e quando poderá se mudar?

Alfenas. O dia certo eu não tenho. Vou esperar mais um mês e pouco, dois meses aí. Não sei, vou arrumar um jeito. Dependendo (da situação nos próximos meses) vou com minha mulher e mais um dos meus filhos (Reis tem quatro filhos, de 27, 25, 22 e 21 anos), meus outros podem ficar aí. Vamos ver...

Qual sua atividade agora?

Agora estou parado, comendo o que ganhei lá atrás (Reis tem guardado parte do dinheiro que ganhou como jardineiro). Dá para ficar mais uns meses aí sem emprego. Eu não saí para procurar outra coisa ainda. Vou esperar terminar o barulho aí, ver como vai ficar...

Por quais tipos de situações o senhor tem passado ultimamente?

Todo mundo que me vê na rua, fala: "Olha lá o fantasma, olha lá o fantasma, ó o fantasma passando na rua aí!!!". Mas o bairro inteiro falou pra mim que eu devo recorrer sobre o jornal (entrar com uma ação judicial contra o Correio Popular) por isso aí. Difamaram muito o meu nome, a minha presença, a minha pessoa. Em Campinas e no bairro.

Como foi a reação dos seus amigos com toda essa história?

Os meus amigos estão todos comigo. Eles falam: "Olha Maurício, se precisar de apoio nosso aí a seu favor no jornal, você pode nos procurar aqui que estamos todos com você". O bairro inteiro fala. A amizade que eu tenho aqui na região, no Jardim Yeda, no Santa Lúcia, no Campos Elíseos... todo mundo fala a mesma coisa.

O senhor acha que a corda arrebentou do lado mais fraco realmente?

Aconteceu. Toda vida os mais grandão (sic), que sempre a gente vê na televisão, os nêgo (sic) rico, nunca dá nada. Agora eu... como trabalhei... a corda arrebentou do meu lado até eu perder o emprego. Todo o tempo que eu trabalhei na Prefeitura eles foram honestos comigo. Quem veio jogar a lenha no fogo foi o jornal. Logo em cima de mim. Porque teve nêgo (sic) aí que, por muito mais, passou ileso e não deu nada. Fui injustiçado.

O senhor sabia que ganhava todo aquele valor de salário?

Sabia. Quando eu entrei na Prefeitura, a gente já tinha um valor (estipulado para ser o seu salário). Foi problema de campanha, lá do PT, no começo lá...quando eu entrei lá, naquela época. Esse ordenado que estava no jornal, aquele total (R$ 3,2 mil) era o total bruto. Mas, descontando, vem bem menos. Eu tirava o que eu gastava no mês, pagava a prestação de um filho (Maurício disse ter comprado um carro usado para um filho e uma moto para o outro). A moto do meu menino, ele paga a metade e eu pago a outra. Era suficiente para a minha família, para a minha vida. Não era grande coisa, mas estava bom demais.

Era o senhor quem fazia as retiradas do seu salário?

Muitas vezes, meu filho ia comigo. Outras vezes, ia a minha filha. Não sei mexer naquela coisa lá (caixa eletrônico). Se eu demoro, o negócio atrapalha... Também tinha o meu amigo que foi citado, o Cristiano (Kubiszewsky, assessor do vereador Aurélio José Cláudio). Ele morou aqui na frente. Eu ia lá (na boca do caixa eletrônico) com ele, levava o cartão e chegava na hora, junto, ele enfiava o cartão. Na hora eu pegava (o dinheiro). Ele ainda me trazia em casa.

O senhor trabalhava para Aurélio Cláudio?

Não, eu trabalhava para a Prefeitura. Eu vim para o DPJ (Departamento de Parques e Jardins) e depois fui requisitado para vir para essa região aqui (Jardim Santa Lúcia). O Aurélio foi eleito na região e como eu vim pra cá a turma está achando que eu trabalho para ele.

O senhor conhece Aurélio Cláudio?

Eu conheço ele porque todo mundo conhece no bairro. Ele tinha mercado lá em cima...

Para finalizar, o que o senhor tem a dizer para as pessoas que o apontam como fantasma na rua?

Eu não estou envolvido mais nessas questões (os escândalos de desvio de função e de suposta partilha de salário). Se eu achar um emprego compatível, tanto faz aqui como lá (em Minas), eu podia até voltar (a trabalhar). Mas vamos ver daqui até lá, tem muita água para correr ainda. Deus vai me abençoar de um jeito ou de outro e eu vou me virar.

 


Fonte: Jornal Correio Popular

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